
Ah! Menino, o que sabe de ausências
e como irá consolar os sozinhos?
Ainda tão novinho, Menino, nunca sentiu a voz ecoando em paredes indiferentes, nem sabe do corpo frio, da alma fria.
Como irá povoar os espelhos
com a única e sempre mesma imagem?
Menino, Menino, o que sabe de pés imóveis,
sem rumo, sem destino?
Menino, já viu mãos vazias?
Já viu essas mãos inúteis?
Reconhece lágrima, Menino?
São esses mares salgados, povoados de dores que,
ora mansos, ora balbúrdia, molham todos os travesseiros
de todos os sozinhos neste mundo.
Não, não queira saber, não queira.
Menino, você só sabe do amor e é impossível lhe explicar os sozinhos.
Impossível explicar a fome a quem é maná.
O que posso lhe pedir, Menino, se nada sabe do pedaço que me falta?
Não, não quero nada, não peço nada.
Olhe para outro lado, busque nas festas onde, sob luzes coloridas,
outros iguais a mim escondem sua solidão
em verde, vermelho e os dourados fingindo sol.
Busque em outras festas onde não estarei
porque perdi todas as fantasias.
Imagem: François Boucher