quinta-feira, agosto 21, 2008

Carta cheia de dor


Ando triste, meu amigo.
Há uma ausência morando em minha casa
que cobre de cinzas os espelhos,
amarga o sumo das frutas
e abala as flores em desfalecido langor de doentes.

Sonhei muito e o cansaço também me abate
vivo longe, afasto-me de mim
incapaz de olhar o anel que se quebrou.

Ando pelas manhãs, em lágrimas
o sol queima meus olhos
e desfaz toda cor.
(Que cor terá a saudade?)

Voltei à eterna noite e às lembranças,
dardos inesperados a sangrar, a sangrar...

Desta tão grande noite,
fogem até as felicidades fáceis
e me abandonam as palavras, uma a uma,
seguindo o caminho de quem me deixou.

Imagem: Fiodor Moller

sexta-feira, agosto 15, 2008

Justiça para Flávia


O amor tem muitas faces.
A mais bela de todas,
vive nos olhos das mães
que iluminam toda sombra
refazendo os dias,
acendendo o sol.

De iluminar, porém,
há uma mãe maior
peregrina do frio em que vive
da maior tristeza, refém.
Ela e sua filha,
buscam determinadas,
no deserto gelado da injustiça,
o que lhes foi tomado
mitigar a imensa dor
para sempre, irreparável.

sábado, agosto 09, 2008

Do que não digo


Saberá o pálido papel
do veneno e da urgência
que tomam da boca as palavras
ou do júbilo dos corpos multiplicados
em muda agonia de amor?

As palavras que sei nada sabem
do que pressinto no teu peito,
ninho de gemidos.

Nada que eu diga, diz tudo de ti,
do devanear ou da saudade antiga,
pois que vives já nas minhas veias
semente, veio valioso do desejo.

Do que sei de ti,
tão dentro de mim,
as palavras não sabem dizer.

Imagem: Eduard Munch