sábado, novembro 21, 2009

Espera


Fiquei aqui por horas
fiquei esperando o dia
na porta que não se abria
para os teus olhos de encontro.
Fiquei esperando o sol
que mora nos olhos teus
e não abrem mais os dias.
Fiquei aqui por horas
e a porta não se abria
nem o sol, nem os dias.

E agora,
nem sol,
nem hora,
nem dia.

Só o pranto.

(e os meus olhos
que sonham com os olhos teus).

segunda-feira, agosto 24, 2009

Enredo triste


Por um tempo escuro e louco,
segui na tarefa de te esquecer.
Sondando caminhos de viver, segui
e eram névoas, os dias
e eram sombras, as noites.

Na solidão, qual estrela perdida, segui
lavrando em silêncio, a pedra fria da solidão.

Escondendo os lamentos, pelas ruas segui.

Segui por estes caminhos, em vão.
Tu não me amas, eu não te esqueço,
enredo triste de dor.

De que me serviu anuviar a alma
e sufocar o corpo, tentando apagar
as lembranças de ti?

Voltas, voltas sempre.
Nunca foste, nunca
e segui me enganando
na efêmera ilusão de te esquecer.

Imagem: Iaia Gagliani

domingo, julho 19, 2009

Meu amor, senhor dos sonhos


Ai, quem me dera ver-te,
quem me dera morar-te...
Vinícius de Moraes

Senhor das minhas águas
por onde navego e morro
senhor de minhas bandeiras
de júbilo ou logro,
senhor dos ventos, doce corsário,
meu amor me arrasta em águas,
no sal das mágoas, o corte, a dor
e o fim dos brumosos lamentos
se ele volta
se dele, os látegos da paixão cobrem
meu corpo cansado da líquida luta
(ai, lágrimas)
se dele fluem as ondas de amor.

Dos meus portos, perdido,
não ouve o amor, meu chamado, meus gemidos

Oh! Meu amor
Arrebata-me da ausência de teu lume
e me conduz a teus pélagos, senhor dos sonhos.
Lá, envolta em teus desejos
quero imergir, sereia e senhora,
dos teus carinhos, feliz prisioneira.

sábado, junho 06, 2009

Quem sabe de ti, quem sabe?


"Meu amor, eu não me esqueço
Não se esqueça, por favor"
Paulinho da Viola


Não, eu não sabia que meu coração
ficaria tão vazio, tomado pela saudade,
nuvem indelével de dor
do que se quebrou,
pedaços cinzas do meu amor perdido.

Estava tão bonito,
manhãs acordando verdes
sob chuvas, sob céus e
a vida que prometia.

Algo se perdeu
o meu amor
que não mais é meu.

Quem sabe de ti, quem sabe?

segunda-feira, março 30, 2009

Noite


Sonho
e a noite se abre,
arca de milagres
e coloridos filmes
de bailarinas.
Sonho
e o amor se apresenta,
arca de milagres
e a flor da pele tingida de anseios,
arrepia-se.
Sonho
e sei que voltas
toda noite...

Imagem: Eugene Carriere

domingo, março 08, 2009

Súbito


Nem posso dizer que fui feliz
não houve tempo para nada
enleada de suas palavras
envolta em desejos e sonho.
Nosso amor foi revoada
de pássaros em migração
ou miragem desses meus
sentidos cansados de tanta solidão?

Não houve tempo para nada
nem sei que músicas embalam
seu sono sem mim.
Nem sei se sonha ou se passa a noite
em claro, como tateio a madrugada
de saudade em saudade.

Inesperado, veio e se foi, súbito.
Pouco conheci de suas mãos
senão o fogo onde ardo, deixado
assim como nada, em meus vãos.
Pouco entendi dos silêncios seus
e, das palavras todas que me disse,
apenas uma ouço agora: Adeus!

Imagem: Bouguereau

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Espera


O amor espera em silêncio.
Além e antes,
a flor de todos os espinhos
abre-se a cada sol
ainda que o dia, sob plúvios,
pareça lamentar minhas feridas.
Presa a alma nestes lamentos,
creio, entretanto, em outras cores
e nos eflúvios novos
de outra primavera.
Sei do céu, dos seus caminhos azuis
onde já passei um tempo
que era todos os tempos.
Por isso, creio enquanto...

... o amor espera.
Silêncio!

sábado, janeiro 03, 2009

RENDAS DE SAL


"Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar..."
Milton Nascimento e Ronaldo Bastos


Rendo-me ao improvável navegante
de minhas águas
marés ignoradas.
Rendo-me
ao que nunca me abraça
ao barco que passa além
e seus olhos de não ver ressacas e remanços
areia de palavras, decorada
que espalho, de tempos em tempos.
Rendo-me ao vento inocente dos dias
que apaga o sonho, ao passar
e leva o aroma dos beijos
e leva quem amava para outro e longe mar.
Rendo-me à ardente constância das águas
presas nestes meus olhos
e à abstinência dos sentidos
nestes frios lençois, perdidos.
Rendo-me
e me sufocam os bordados
e as flores tristes
à espera do navegante para sempre longe
destas rendas que, de amor,
teci.

Imagem: Eugene Carriere