"teu íntimo sentir floresce em minha boca..."
Unamuno
O amor chegou qual um raio, riscando o céu (de cegar) e meu corpo mudou, flutua agora, apesar de ar faltar a todo minuto, à menor lembrança do meu amado.
Agora, sou apenas os meus sentidos, o tato, a pele em fogo e devaneios. A primavera me entra pelo corpo, polens, planuras coloridas, sonhos de Monet, mil picadas de abelhas formigam em mim, eu flor, colorida de amor, em mim já posso sentir as tépidas mãos que me irão desfazer, pétala a pétala.
Abertos todos os céus, neles passeio, tomando para mim, estrelas, reivindicando a lua e suas serenatas e os gatos cantando em dueto nos becos. Não disse que me perco, que devaneio? É a loucura de quem ama.
(Meu corpo já se abre feito girassóis, em prelúdio de carícias).
Não quero lençóis, quero a canícula do meio dia que ele trará, mesmo que venha de madrugada. Quero a impudicícia do sangue aquecido até a dor, ventura, quentura boa de quem ama assim como amo. Não quero os planos, quero que me olhe como olha o mar, com sal na boca e o horizonte nos olhos.
Não quero leitos, quero flores e beijos e tudo o que meu amor sabe trazer, carta de amor no bolso e um rosto alegre e belo, bárbaro dono do que sou, dúplice sonho, minha água de aumentar a sede, Zeus meu e suas plumas.
Imagem: Richard Cosway