
Ontem, sentei-me ali fora, olhando o céu. Eu e meus cachorros.
Sempre faço isso quando estou triste.
A grandeza dele, aquelas estrelas lá, depois do mundo,
a lua depois daquele namoro de três horas com o sol,
tudo distrai minha fragilidade.
E assim, meio enluarada, penso no figurino que me esconde
em disfarces diários, máscaras de uma vida
que parece pertencer a outra pessoa.
Negativo da minha própria foto,
quase nada sei, quase nada faço.
Só sei procurar palavras e juntá-las assim,
desarrumadas, desgraciosas.
Nada brilha, exceto a noite.
Não sei cozinhar nem bordar, mal consigo dormir.
Só aprendi a ler o amor em certos olhos que nunca vejo.
Se não os vejo, como lê-los?
Vivo sem amor.
Olho a noite e seus silêncios aprofundam minha solidão,
agora que tudo é antes, é ido.
Agora padeço de fome, da grande fome do meu amor perdido.
Agora, só tenho o resto da noite
e as madrugadas intermináveis que abriga.
Imagem: David FN
Hoje tem um poema novinho lá no lindo blog do Léo.