
E, a tal altura me elevou o amor,
que vivia atordoada e me quis anjo.
Andei por nuvens,
deusa em firmamento de amantes.
Fechada em fantasia de violinos, outonos e aconchego de invernos, acreditei em todas palavras de amor que me adornavam, flores diariamente ofertadas, como beijos.
E o amor estava nas versos, em objetos, gavetas, em música
e no olhar dos meus bichos.
Mas eram asas emprestadas
e as julguei minhas
até perceber a nudez dos meus pés queimando
na terra vazia de deuses e flores.
(era um sonhar juntos;
agora, é minha boca aflita,
meu sonâmbulo corpo
e alguma ferida que dói sem descanso).
Imagem: Elvira Amrhein