
Não é seu adeus o que me dói.
Antes, a certeza súbita do que não mais terei e a saudade que já pressinto na ponta dos dedos, no dobrar dos dias que se fará em longa, inexorável noite.
O que me dói é o silêncio que tomará as paredes, de agora em diante duras, só tijolos e desbotadas tintas. Nelas, seu cheiro não mais será o aceso dos meus sentidos.
O silêncio, meu amor, é o muro que me cercará, pois que me dói qualquer música. Qualquer canto de passarinho me fará chorar.
O que dói em meus olhos não é esse mar incontido, prestes a arrebentar. São essas flores inúteis, de ilusório frescor, pois que já sentem em que água se molharão.
O que mais dói é o nunca mais e essa calmaria como se meus braços fossem de mortos e as asas que me deu fossem, agora, pedras que me impedem de voar.
(Seu adeus encheu de deserto meus olhos).
Imagem: Arthur Hacker