
Ela já está chegando, pressenti desde ontem e venho tentando me esconder. É impossível. Nem o "Quase Tudo", com aquelas lindas fotos da Danusa, adiantou. Então saí buscando amigos, mas todos estão muito ocupados com as festas, ou melhor, com a festa.
Ela não tem nada a ver com a festa, ou com as festas de final de ano. Não sou daquelas que ficam melancólicas no natal ou reveillon, ao contrário. Quem me conhece sabe que adoro festas.
Esse ano é diferente, é o mais diferente. Houve muitas perdas e muitos ganhos. As perdas foram muito mais profundas. Os ganhos foram muito mais diversificados e intensos.
Perdi o amor, quero dizer, o amor sumiu. Não o encontro em mim. Por isso, estou vazia.
Perdi meu pai e, por isso venho chorando há uns dias, desde que comecei a ouvir "Adeus ano velho, feliz ano novo...." porque ele adorava cantar isso. Logo ele, que não cantava nada! Então fico me lembrando daquelas orquestras que durante o dia 31 de dezembro e 1.º de janeiro ficavam ecoando o tempo todo lá em casa. Um fundo musical saboroso e relaxante para amenizar aquela loucura que é preparar uma festa. Ele era o nosso disc-jockey (sei lá se é assim que se escreve isso, tão fora de moda).
Ganhei muito. Acho que este foi o ano em que mais acumulei amigos perfeitos e também o ano em que fiz mais besteiras. Gosto de fazer besteiras, algumas. Nesse ano, ultrapassei todos os limites. Neste ano, eu conquistei até uns fãs!!!! Chique, muito chique ou, como diria meu amigo Jôka, bacanérrimo. E ainda ganhei um presente especial, que vem aos pedaços, dia-a-dia e vai se acumulando maravilhosamente em mim.
Contudo, desde ontem, ela vem me cercando, como um exército inimigo. E, se nessas horas não há ninguém com quem falar, como aconteceu hoje, fico indefesa demais e ela me ataca.
Já sei que amanhã será pior, estarei mais solitária ainda e não haverá festa nenhuma dentro de mim.
Tentei recorrer ao meu jargão "amanhã é outro dia". Mas, não está funcionando porque amanhã será um péssimo dia, com ela, a tristeza.