sábado, abril 24, 2010

Ainda sou tua


lá e cá é tudo assim: aqui.
Antoniel Campos




Ainda que a distância endureça seus muros
e vozes esmoreçam, mesmo sendo fortes,
ainda que as marés refluam, apenas refluam
ainda que as flores emudeçam, tristes,
e o solitário sol desista de si
e esfrie a lua
ainda, ainda...
um riso ou a lágrima única
refazem o dia
e dentro dele, a palavra
que me tornou tua.

(Depois de ti, são outros os perfumes
e se encantam os mundos).



Imagem: Lance Morrisson

segunda-feira, abril 05, 2010

Em pedaços


Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem porto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés.
(Chico Buarque)


E nem isso sei,
se passamos,
se passei
das suas mãos para o não
nem isso sei.
um vão e o copo que tomo
vazio
e o trago desfeito
não era um beijo?
nem isso sei.
as fontes várias do som
que exalava das veias
e o vinho?
nem isso sei.
não sei
de rasgos,
espinhos na boca
e seiva e fatos
e uivos.
a paga do tempo
ido, lento
o que sei?
espinho recolhido
que nem mais fere
a pele,
as pernas
minhas pernas onde vão?
e eu sei?
trajeto da alma
que andava em pautas.
acontecia de amanhecer
e quem via?
nem isso sei
nívea ao sol
e sua, toda sua
e agora?
não sei
a lua,
o tempo de se esconder
e morrer à míngua
é agora?
é hora, é nunca?
não sei,
é véspera ou aurora?
rasgo o lençol em sua busca?
não sei
onde está você?
nunca sei.

Imagem: Dmitry Vyazensky