quinta-feira, novembro 13, 2008

Amo-te ainda


Se dos meus olhos desaba a luz
de perenes manhãs de sol
abrindo minhas cortinas,
é por saber de ti,
voz distante e rara.

Amo-te ainda hoje
e me visto de vermelho em manhãs assim
em que tua voz me desperta
(um fado em sonhos)
como se fora te encontrar.

Amo-te ainda e mais
de um amor sem asas, tecido de ausência
(e ânsia)
e me queria dentro dos teus sonhos
como te percebo nestas madrugadas.

Se desperto contigo,
canto o meu amor desvalido
e vou pelo dia, colorindo calçadas
com lembranças da noite e suas horas infindas
como se, enfim, tivesses vindo.

(Amo-te ainda e tanto)

Imagem: Marie Louise Oudkerk

segunda-feira, novembro 03, 2008

A música do amor


Que importa este corpo
de onde se ausentou a primavera
se o amor, como melodia de cítaras
atravessa os silêncios da noite,
desfaz o frio, abre os mares
levando consigo as notas do lamento,
o canto antigo do meu querer?

Que importa se não estás nunca
e só me deixou as sombras,
escombros de carinhos
que insisto em refazer?

O meu amor continua fluindo em ascenso
soando em plangências desarvoradas
a confundir as madrugadas.

Que importa a dor
pela morte da flor que plantaste
para depois matar de sede e fome?

Há uma sinfonia
(alarido de lembranças)
de palavras que sussurro
no solitário torpor das noites
e cobrem as nuvens.

Choverá em algum lugar...
Quem sabe, assim, ouvirás meu canto?