terça-feira, dezembro 26, 2006

Queridos, até já


Desejo-lhe o que você deseja. Desejo-lhe o amor, por si, para si, para os outros, para todos.

Enquanto amamos, somos felizes. E só somos felizes quando amamos.

Eu sou muito feliz porque amo você, meu desconhecido amigo virtual. E confesso que, neste ano que está indo para a memória, sua presença, seu carinho e sua amizade alimentaram meus dias com felicidade, emoção e amor.

Obrigada a você que me ajudou a sair da névoa.
Obrigada a você que me deu a ilusão do amor.
Obrigada a você que exagerou nas palavras, diante dos meus mal arrematados textos.
Obrigada a você que ressuscitou lembranças da minha infância, trazendo de volta a felicidade daqueles dias.
Obrigada a você que me ensina a língua-mãe.
Obrigada a você que enche de poemas o meu dia.
Obrigada a você que me dá notícias do outro lado do mundo.
Obrigada a você que é meu mestre na política e em quem adivinhei o gênio.
Obrigada a você que me deu livros de presente com linda dedicatória.
Obrigada a você que meu conterrâneo, todos os dias, empresta a beleza para o espírito e os olhos.
Obrigada a você que me apresentou Copacabana.
Obrigada a você de quem sou devota, a exemplo do mais inteligente e divertido dos mestres.
Obrigada a você que agradeceu pelos versos que estavam em si, esperando uma janela aberta para sair.
Obrigada a você que quer me ensinar a rimar.
Obrigada a você que, já tendo ido embora, continua aqui no meu coração e ficará para sempre.
Obrigada aos novos amigos que chegaram agora mesmo.
Obrigada a você que vem silenciosamente e é como aragem levinha.

Obrigada a todos que aqui vieram e me deram o seu amor.
Por isso, meus momentos de felicidade foram se multiplicando durante o ano, até se tornarem horas, dias, meses, um infinito de tempo feliz.

A imagem? Roubei lá do Alfarrábios.

Voltarei em alguns dias. Cuidem, por favor, das minhas janelas.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Amor

Um ano significa tanto e esse tempo lá fora é grande.
Aqui, dentro dessas janelas, é sopro, ou mil dias.
Principalmente noites, foi isso.
E o amor, esse enganador, passou aqui, ali, tão próximo, sem tête-à-tête.
Expectadora dos meus sentidos,
olhei os namorados e seus beijos,
vi o amor, tão próximo, mas era brinquedo de outras crianças.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Neste Natal


Amigo, vou lhe contar uma curta e bonita história de amor.

Era uma vez, uma mulher que não se lembrava mais de como ser criança, nem tinha o riso na alma. Uma mulher que já não escalava correndo as árvores da ilusão, nem dormia o sono pacífico daqueles que ainda não sofreram.

Às vezes, vislumbrava luzinhas na névoa da solidão, longe, longe e, por mais que tentasse, nunca as alcançava.

Porém, no momento exato, eis que um farol imenso se abre sobre a escuridão, envolvendo-a com sua força, com sua luz, com seu poder e com a alegria comum a todas as luzes.

Esse farol tem um nome: AMIZADE.

Desde então, a mulher, antes perdida, encontrou-se e se encontra diariamente em permanente festa e é feliz para sempre, pelo menos por enquanto.

Mudando de assunto, neste Natal, não precisei pedir nada ao Papai Noel porque ele antecipou todos os meus desejos. Que velhinho danado!

Deu-me o amor, impossível, mas deu. Como amor não se discute, vou amando assim.

Deu-me as palavras para falar desse amor. Ainda não sei usá-las direito, mas sigo aprendendo.

Deu-me os livros, meus amados. Já disse aqui da minha relação apaixonada e sensual com eles. Essa paixão aumenta, aumenta. Sou sempre infiel com eles porque amo vários e todos ao mesmo tempo.

Deu-me muita alegria com meus poemas. Um deles está até virando música e outros foram lidos por mais de 2 mil pessoas recentemente.

Mas, neste Natal de alegria novinha, o melhor presente que ganhei foi você, seus carinhos, sua presença, suas palavras. Por isso, gostaria tanto de saber escolher as mais lindas palavras de amor e então, diria que lhe desejo um natal na mais prefeita comunhão com seu Deus, qualquer que Ele seja, onde você estiver, porque é aí que Ele estará.

Espero que o seu Papai Noel seja tão pródigo quanto o meu e deixe sua alma entupida de amor, carinhos e paz.

FELIZ NATAL!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Por você


"Se, ao te conhecer, dei pra sonhar..."
Chico Buarque
Para você, pinto de vermelho meus lábios ansiosos
e abro minha alma em arco-íris,
pois que é o meu sol, ao fim de longa tempestade.

Só para você, encho a casa de flores.

Com você brinco de ser feliz e radiosa
e transformo a noite em dia.

Para você, rabisco toscos versos, menores que
a minha saudade quando não vem.

Por você, saio pelas ruas, linda e solta
e encanto o mundo com minha alegria.

Por ter me tirado do casulo escuro de dores antigas
que não me deixavam,
com você, sou trêmula e frágil borboleta,
colorida de sonhos.

Com você, sonho.

Imagem: Júlia Mariano

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Ilusão

Você veio, como brisa, fumacinha de engenho, arco-íris depois da tempestade.
Invadiu meus dias com delicadezas de pássaro e som de chuva leve. Encheu de cores os meus olhos tristes e, com suas palavras de amor, fez do meu coração, cativo da mais doce prisão.
O amor cantava em minhas veias.
Mas hoje, esconde-se, perde-se de mim e não volta mais.
Todos os dias indo e eu só.
Não pensei que fosse apenas ilusão disfarçada.

Ando só.
Como uma casa abandonada, desmancho-me em pedaços irremediáveis.
Fantasmas me visitam e meus dentes rangem na noite escura.
Ando só e vou por estranhos caminhos.
Ando tão só depois que se você foi.

Imagem: Judy Richardson

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Labirinto

Amar como amo é andar por uma casa de mil portas fechadas.

Busco em mim todas as ternuras necessárias e sigo abrindo, uma a uma,
em longas e desajeitadas tentativas.

Sigo procurando seus velados olhos de seduzir.
Vou em busca do meu coração
que você tomou para si sem cuidado.



Procuro-me em meus labirintos e nos seus,
onde nos perdemos constantemente,
mas, por trás dessas mil portas,
os ecos do meu amor andam cansados de chamá-lo, em vão.



Não encontro as chaves.
Não há ternura suficiente nem palavras mágicas
que as façam novamente se abrir e me deixar ver o sol.
Talvez nem exista mais sol.
Talvez não haja nenhuma saída.

Imagem: Kim M. Koza

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Decisão de final de ano

No próximo ano, vou amar diferente.
Prometo que, em meu colo, meu amor vai se deitar mais noites e sonhar acordado em meus braços, por horas sem fim.
Mas também prometo que não pisarei sozinha, as pedras da nossa estrada.

Prometo que vou aprender a cozinhar e fazer as comidinhas que ele só vê em revistas.
Mas juro que dividirei com ele as delícias da pia cheia de louças.

Prometo ler para ele, em voz de langor,
os sonetos de amor do Vinícius .
Mas prometo igualmente permitir que ele leve os cães para passear.

Prometo deixar o cabelo crescer de maneira inimaginável.
Mas quero que ele os lave com suas mãos, seque-os longamente e os perfume com seu hálito e seus sussurros de amor.

Prometo esperá-lo todos os dias, como espero o sol,
pois que ele é meu sol.
Mas poderei dormir enquanto ele não chega para que me desperte com seus beijos, ou quem sabe, alguma serenata?

E, se passado o ano, eu não cumprir nenhuma dessas promessas, ainda assim, prometo que irei amá-lo de todas as formas que há de amar, como ontem, como hoje, como sempre.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Insônia (I)

O “sono revigorante”,
meu sono revigorante anda por aí,
perdido em alguma esquina
ou em leito mais feliz.
Vejo fundo na noite.
Réstias e coros de noturnas atrizes e sua solidão disfarçada de batom.
Ouço os cães vadios a cantar sua música, em perpétua fome, mas me
cansei de luas e estrelas. Cansei-me de suas conversas azuis.
A madrugada, um elástico ou talvez muro impedindo o sol,
e minha cabeça, um hipódromo em dia de grande prêmio.
Pelo menos, vejo todas as horas cinzentas
e a chegada do eterno viajante, em colorido espalhafato.
No entanto, mesmo sempre e antes desperta, não posso, como Joanna, cantar para o meu amor, e repetir
acorda, acorda, d'accord, d'accord...

Imagem: Alphonse Mucha

domingo, dezembro 10, 2006

Clarice



"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada...
Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
(Clarice Lispector)


Quem mais surpreendeu as palavras com a exatidão de seus contornos, ela também, surpresa de si mesma e de sua própria clareza?

Talvez, sua busca pela essência mais que pelo fato, pelo pensar mais que pelo ato, a tenha levado a compreensões maiores, invisíveis aos nossos rotineiros olhos.

E ainda assim Clarice afirma modestamente que "Aliás, descubro eu agora - eu também não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria."

Porém foi e será sempre A ESTRELA porque seu sangue e seus ossos estão em suas palavras.

Ela mesma afirmou: "Eu acho que quando eu não escrevo, eu estou morta" (clique).

Hoje é o aniversário de sua morte e esta é a humílima homenagem que lhe faço, a convite do Lino e da Cris Penaforte.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Felicidade

Hoje, a manhã se exibiu em audácias de luz
e as flores ainda agora se assanham
em balé delicado, redes de borboletas.
Mudaram os aromas do mundo
e todas as palavras fizeram sentido.
Hoje, os girassóis miraram meus olhos,
afogueando-me em amarelos inexoráveis.
Sorri, recatada em resposta
e abracei o dia como Danae
envolta em fagulhas douradas,
para sempre fértil de amor.
Hoje, sou abelha-rainha
de mel, ornada,
pela doce voz do meu amor.

Imagem: Rui Cardoso

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Nuvens


Gosto de ver as nuvens assim imóveis,
pacíficas, fechadas em novelos.
Escondo-me em nuvens e nunca saio,
suspensa em invisíveis cordões,
mãos de anjos escondidos, como a alma.
Prefiro viver em nuvens, em azuis,
que mimetizar-me em palcos,
em balcões, ou nas ruas solitárias
onde multidões se cruzam sonâmbulas,
anjos, anjos de Nelson,
anjos pastores da solidão.
Vivo sim, em nuvens suspensa,
enovelando-me branca, quase pura,
entre os camaleões.

Imagem: Loustal

segunda-feira, dezembro 04, 2006

De tanto ser tua


De tanto ser tua, invento contigo novos carinhos para levar-te da tristeza à festa rubra do nosso amor, na rua, nos abraços, em sobressaltos de beijos roubados. Mostro-te minhas belezas, desato alguns segredos quase infantis e outros que vergam teus ombros. Mostro-me em carícias e teus olhos, em ondas, tomam imagens, acolhem o toque, abismados da minha nudez. Somos apenas nós dois e o mundo se perde em ais, treme em confusão diante de tanta entrega. Dou-me às tuas mãos escultoras, dou-me e ressurjo delas em deslumbramentos. De tanto ser tua, esqueço o vestido e me cubro com teu corpo. De tanto ser tua, durmo o teu sono e acordo em ti como flor em jardim de Monet.

Imagem: Monet

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Quisera

Meu amor, para você quisera ser a moça da carne cor de rosa
e iluminar suas mãos quando me tocasse.
Quisera tanto ser abelha
e criar o mel para sua boca, doce, doce.
Quisera ser tudo, amor,
pássaro grande,
flor perfumada,
tempestade.
Quem sabe, a mais perfeita mulher
e transformá-lo em turbilhão.
Quisera andar os seus passos e tentá-lo com a ventura dos beijos reencontrados.
Quisera ocupar seus pensamentos em nostalgias de pôr-do-sol.
Porém, amor, sou apenas uma pequena borboleta de cores desmaiadas em busca do mais profundo e distante jardim, escondido dos meus olhos.
Sou apenas aquela que o ama, antes e sempre.

Imagem: Anita Munman

terça-feira, novembro 21, 2006

Se o amo?

Se o amo? Não sei. Só sei que eu o sinto, como se aqui estivesse e me levasse a alma, lavasse o pó e me fizesse Vênus, nascida da força do seu amor. Sinto-o em mim, nessas manhãs em que o sol se retarda como para manter as penumbras onde nosso amor se aninhará, preguiçoso e lento. Sinto-o sempre, e o constante sentir o transforma em presença, em migalhas de estrelas durante a noite ou cheiros, em cios. Nem mais sei se o sinto ou se deixei de ser para beber em sua boca o alimento da minha vida inteira.
Se o amo? Não sei. Só sei que miro o céu e o alcanço, sonhando com seus abraços e com a doçura voraz de sua boca.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Foi-se o Poeta


Foi-se o Poeta, foi-se.
Foi-se o Poeta e, no entanto, o mundo segue.
Como pode meu Deus?
O Poeta de mel, que libertava estrelas
e as colava em pipas de sonho.
O Poeta que misturava vidas em palavras tão doces quanto o açúcar com que alimentava suas amigas, tão pequeninas e agora menores ainda.
Encerram-se os versos também pequeninos de beleza agoniada e mágica.
O Poeta pastor de formigas, agora sozinhas e desnorteadas.
Fecha-se o telescópio impedindo o nascimento de outros versos.
Contemplando suas últimas palavras, chorei de dor.
Nelas, a esperança, a enorme esperança que o grande Poeta trazia em si e em seus versos sempre acompanhados das mais belas músicas.
Foi-se o Poeta para colher formigas no céu.

(em homenagem ao meu grande e querido amigo, Nel Meirelles)

Imagem: Nicoletta

sexta-feira, novembro 17, 2006

Saudade


Saudade se assemelha a gente.
Tem endereço, nome, música de fundo e até telefone. Que nunca chama.
Saudade mora, acorda e se alimenta.
Às vezes, dorme sono frágil e em sonhos, geme, chora, ri.
Saudade anda, anda por aí,
pula dos olhos, vê o invisível.
É um ser dentro do outro, um sobressalto de som, do tom.
Saudade se quer amante.
Constrói recantos e circunstâncias e mata com facadas.
De tanto ser gente, é pastora de lembranças,
anjo de guarda do amor.

Imagem: willian Whitaker

domingo, novembro 12, 2006

Mágico


Amor, por quantos caminhos me leva, folha de outono.
Quanto me faz mergulhar nestas fontes que secas, secam minha seiva, mas que me saciam todas as sedes, ao brotarem como o sol de depois do mar. Apesar de argonauta, nômade de mim, você me resgata das inconstâncias e arrepia minha boca, persistente como o sal do mar que o alimenta. Mágico arauto dos meus sonhos, água de matar a sede, vinho de me entontecer, nunca vem em vão, pois que me arranca do chão enquanto pousa em mim e me leva, leve, leve.

Imagem: Minrong Wu

sábado, novembro 11, 2006

Tristeza


Foi ilusão, agora percebo. As horas que imaginei, de amor, só imaginação foram. E aqueles beijos, nada mais que veneno celebrando minha perdição. Têm razão os ascetas que se escondem em paragem única e assim não podem se perder. Trancada a alma, cegos os olhos e mortos os lábios, deixam-se levar pelo vazio que guardam em si. Não sofrem, não fazem sofrer. Foi ilusão, já sei. Os mares e seus tesouros enfim revelados são áspera descoberta de baús desvendando sangue. Foi ilusão, eu vi. E perco o alvoroço das horas e as cores dos dias. É o circo que se vai, levando todas as cores, todos os risos de todos os palhaços, todas as mágicas. Aqui, do círculo de alegrias, só uma indelével marca no chão.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Hoje

Hoje na madrugada, amor,
se estivesse comigo,
suas mãos nas minhas,
sob essas estrelas,
eu provaria o sal que trouxe em sua boca
como se deuses,
em noite de benevolência,
movessem o mundo para nosso deleite,
como se amar fosse simples e terno, apenas.


Hoje, amor, queria um outro tempo,
movimentos convergentes
e meus pés tocando os seus.
Imagem: François Bouchet

domingo, novembro 05, 2006

Proposta


Pelo meu amor que me desnorteia, eu te proponho me amar também.
Proponho o amor sem consagração dos sábios, sem incensos.
Proponho o amor profano dos amantes sem perdão, que não nem se entregam ao medo, mas apenas a si mesmos.
Proponho a entrega dos beijos, o abandono de membros e de todo pudor.
Proponho a queimadura na pele marcada de dentes, ardente, ardente que sendo fogo, furacão, seja ainda vento perfumado.
Proponho que me ames como criança e como sábio.
Que saiba ler em meus lábios todas as palavras de amor que murmuro nas horas em que me entrego a ti, deusa em que me transformas, das mais ternas loucuras.
Que me recolha em ti, no morno cansaço de depois e cante em mim, a canção dos beijos de amor.
Proponho que me ames como eu te amo e que te entregues a mim, como o rochedo ao mar, sabedor das lutas cotidianas e violentas em que te envolverei, cúmplice, vassalo, semeador, rei em seu reino.

Imagem: Ty Wilson

sábado, novembro 04, 2006

Refletindo sobre a eternidade do amor

Meu amigo DO perguntou se o verdadeiro amor é eterno.
Ele mesmo tem a sua resposta porque seu lema é "o amor não se conjuga no passado: ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente".

Fiquei refletindo sobre o amor e sua eternidade.
Padre Vieira disse, certa vez, que o amor nunca dura e por isso, é sempre representado como uma criança. Deve estar certo. O amor pode sim ter vida curta, mas não deixa de ser amor.
Nem acredito que o amor se transfere de uma pessoa para a outra. Para mim, o amor é fênix.
Porém penso que representá-lo como um pequenino ser significa que ele apenas é, no seu tempo e no seu espaço. Não cresce nunca, não amadurece, não endurece, não envelhece.
O amor é sempre uma criança dentro de nós. E, como toda criança, ele nos conduz usando a imaginação, a magia, o sonho e a esperança.

Creio também que o amor existe para compensar a fragilidade da alma humana diante da solidão ancestral de cada um. Pois que o homem, em seus tormentos e dores, é o ser mais solitário entre todos os seres e abriga em si, tempestades indivisíveis com seus semelhantes.
Porém, quando o amor o invade, recônditos da alma se abrem instantaneamente, clareiam-se, arejam-se e as dores ali guardadas fogem diante deste calor desconhecido.
Pelo amor, assim limpa, assim aberta e iluminada, a alma se livra de seus fantasmas e recupera sua pureza original.
Tal o milagre do amor. Ele, criança, ao nos tomar, transforma-nos em crianças novamente. Enquanto assim estivermos, o amor também estará e será.

Imagem: Guillaume Seignac

quarta-feira, novembro 01, 2006

Coração bobo

Essas coisas do coração, quem pode explicá-las?
Essas idas e vindas semelhantes a trapézios emocionais por vezes me perturbam e sempre me deixam imersa na profunda dúvida sobre a correção do que faço ou digo.
Porém, o que sabe o meu coração do que é correto se só o que faz é lançar-se assim, como um pássaro meio cego em espaços estranhos, atraído talvez por sons agradáveis, por palavras doces?
Nada sei, tal qual meu "coração bobo".
Apenas espero fragmentos de felicidade que chegam de formas inusitadas e quase imperceptíveis. Cega que sou, posso perdê-los, esses fragmentos obscuros de uma felicidade pequena, pequena.
Se fosse um poeta, desses enormes, imensos no desvelamento das palavras, escreveria uma canção capaz de atrair a minha felicidade inteira que, encantada com meus versos, viesse habitar para sempre, este vazio triste que há em mim.
Entetanto, nada sou nem sei.
E a felicidade passa célere, em leves pedaços que se vão à menor brisa.

Imagem: Alfred Glockel

terça-feira, outubro 31, 2006

DIA DAS BRUXAS


No dia das bruxas, espero acontecimentos grandiosos para todos nós, porque neste dia, as bruxas do bem (todas as mulheres) sempre unem seus pensamentos poderosos, voltados para a paz, a prosperidade, a fartura, a fertilidade, o respeito à terra e aos elementos que garantem a vida de todos os seres.

Nesses áridos e estéreis tempos, mais do que nunca, precisamos de suas bênçãos e de suas oferendas de amor, de cuidado e de respeito mútuo.

Nestes tristes dias, em que o ser humano se esqueceu de ligação arquéptica com Gea ou Gaia, as bruxas são os seres fantásticos que nos mantêm ligados à nossa mãe primordial.

Nestes tempos de desastres, de desamores e egoísmo, as lindas bruxas do bem, com seus encantamentos, nos remetem à nossa infância mágica e feliz, infância que nos mantém ainda hoje, antes, durante e depois da juventude e da maturidade, porque só quando fomos crianças conseguimos enxergar a magia do mundo.

Então queridos, vamos acordar com os sentimentos abertos para a beleza da nossa mãe Terra e agradecer por sermos seus hóspedes, tão privilegiados.

P.S. este texto é do ano passado. Eu o repeti por absoluta falta de tempo.

sábado, outubro 28, 2006

Sem sentidos




Eu, que tanto me sufoco em silêncios, quisera ser dona de todas as palavras e, num arranjo imprevisto e belo, dizer do meu amor.
Rosa ainda sem vento, quisera mover-me em você,
bailarina no seu compasso, em coleios, enlaces.
Minhas mãos tão quietas, depois de tantos gestos malogrados,
quedaram-se mudas.
Hoje, só possuo os sentidos toscos de quem sem nada viveu,
senão algumas lágrimas menos suaves
e ecos meio mortos em cômodos limpos,
onde cortinas tentam espiar pela janela se lá fora ainda há vida.

Por isso, não estranhe se por acaso, morrendo de amor em seus braços, eu apenas consiga dizer: amo você.

quinta-feira, outubro 26, 2006

MILAGRE


Que é feito de mim e de meus temores,
quando o amor envolve
e perfuma minhas mãos?
Onde pisam meus pés senão em flores?
Borboleta, fui desde sempre,
porém imóvel e opaca.
Se hoje minhas asas brilham é pelo milagre
de renascer em suas ternuras.
Por ouvir a música que o vento canta em seu jardim
é que me deslumbro em vôos.
Sim, ainda é sonho.
Ainda devaneio sob estrelas, espantada.
Mas sei que, se me transporto em asas multicores,
é ao encontro do amor que vôo.


Imagem: Jorge Coimbra

terça-feira, outubro 24, 2006

Espinhos

É madrugada e minha solidão vela o mundo. Quisera acordá-lo com meu pranto, mas há dores que não se revelam e cortam por dentro. Dentro dos meus olhos secos, espinhos tentam as lágrimas, pequenos demônios da dor. Arranham longe e sangro, na noite, eu sangro.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Definição


esperarei por ti até que todas as coisas sejam mudas.
Eugênio Andrade



O meu amor trouxe doces beijos e coloriu meus olhos com sua felicidade amarela e azul, com seus verdes frutos. Agreste, deixou em minha boca um sabor de sangue e em meus seios, qual em flores, a ternura de orvalhos. Meu amor é outono, é primavera.

O meu amor trouxe o riso e a espera que o dia se acabe para finalmente, qual criança, me colher em seu peito e acalmar minha saudade. Meu amor é suavidade.

O meu amor veio, corsário com flores, com mel e arrebatamentos e roubou-me das dores e das sombras. Roubou-me para si e suas audácias. Para mim canta canções inebriadas. Meu amor é vinho e seus aromas.

Meu amor é teia e me envolve na madrugada com cantigas que só os amantes conhecem e nele me revolvo insone e indômita. Meu amor é delírio.

O meu amor é violência de chuvas, arranca raízes, desfaz crepúsculos para amanhecer em sol radioso de beijos e murmúrios. Meu amor é, finalmente, paz matutina.

Imgem: Jason Edwards

sábado, outubro 21, 2006

Sobre viver



A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a dor do ser que se ausenta,
que se defende, que se fecha, que se recusa
a participar da vida humana.
Vinícius de Moraes




Não vivo sob guardas-chuvas.
Aprendo a viver todos os dias procurando a felicidade em palheiros.
Tento gestos cristalinos para mostrar meus terrores,
dissolvê-los em claridades e me lançar aos dias.
Diante da vida, não sou dura e muitas vezes, desfaço-me.
Quero me encontrar no amor, pois que sem ele não vivo.
Canto e me entrego à dança da vida, ávida de sonhos.
Não procuro asas desconhecidas nem me escravizo,
senão às minhas femininas fantasias.
Quero ser simples e feliz e, apesar de viver de ausências,
nunca desisto da alegria.
Cometo os meus erros sozinha e peco o quanto for possível
porque que outra forma há de viver senão sendo humano?
A vida me chama e vou sempre ao seu encontro. Vôo.
Estou sempre indo com minha única arma: a esperança.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Sinfonia



"E me indicaste o mar, com que navio"
Chico Buarque



Quando estava sozinha e apagada, pés pesados trilhando sempre os mesmos e cansados caminhos, com olhos cegos para minhas circunstâncias e exausta de tantas ilusões e desapegos, você chegou em devaneios, com "se", em mim, em fábulas de princesas e príncipes, desconhecendo os perigos e a escuridão. Roubou-me das estradas vazias, da desolação dos caminhos sem destino e me despertou dos sonhos cinzentos. Mestre dos mais variados carinhos, ensinou-me a vida. Há vida, finalmente. Em fá, em sol, lá e aí e aqui.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Amor tranquilo


Não tema, porque meu amor é tranqüilo.
Não o arrastarei para abismos em saltos no escuro.
Não o deixarei em retornos inesperados.
Antes, estarei aqui, guardada em ninho
para abrigá-lo das dores dos dias e dos medos noturnos.
Antes, embalo-o em mim,
meu frágil amor tão menino.
Imagem: Chagall

segunda-feira, outubro 16, 2006

Comparo-te ao mar

Comparo-te ao mar por tua constância,
Comparo-te ao mar por voltares sempre
e tomar minhas restingas.
Comparo-te ao mar por tragares os medos.
Comparo-te ao mar por tornares sal
o antes insosso.
Comparo-te ao mar, amor,
por me envolveres irremediavelmente,
ilha reencontrada
em teus carinhos avassaladores.
Comparo-te ao mar e seus segredos,
seus claro-escuros a me desafiar.
Comparo-te ao mar porque me perco em tuas cálidas marés
a me arrastar como flor em busca de luz.
O mar, o mar e tuas líquidas mãos,
e eu à deriva mergulhada em teus desejos.
Comparo-te ao mar por seres sempre começo.

sábado, outubro 14, 2006

Nua


Se o tempo é curto ou longo, não me importa.
Hoje resolvi ser feliz, em horas ou meses, por minutos ou dias.
Preparei meu banho de rosas e fiquei pétala, entre outras.
Fiquei por um tempo perfumada; fiquei para sempre macia.
Vesti-me de amarelo com flores abertas, vermelhas
e o espelho me disse, linda!
Por algum tempo, escandalosa, feliz; por muitos meses, colorida.
Nua, nua, disponho-me à entrega. Por um dia, para sempre?
O tempo não me mede, o tempo não me impede de ser sua.

Imagem: Ana Maria Russo

sexta-feira, outubro 13, 2006

Se me escondo assim em letras,
é que a solidão me fez perder
o dom das palavras.




Imagem: Dianne Poinsky

quarta-feira, outubro 11, 2006

Este amor


Viver este amor é ser duas pessoas com incertezas, mistérios e enleios.
É viver caindo em nuvens e indo e vindo em trapézios.
Por este amor, reviravolto-me.
Ah! quem dera fosse em seus braços.

Mas, como o poeta,

"agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto".

É isso, o amor. É assim o meu amor. Pêndulo.

Nascendo ao dia começam os tormentos da saudade e da espera. Penso que não vem, que nunca virá mas espero. Espero o dia passar e deliro, pura primavera e flor aberta ao seu amor.

Tantos dias incertos e o mundo opaco e as noites sombrias.

Se, enfim você chega, a madrugada rouba o sol e, fingindo-se manhã, queima-me e inunda o dia.

Imagem: Durwood Zedd

segunda-feira, outubro 09, 2006

Sua ausência

Hoje, tal como Dirceu, posso dizer que mil vezes finjo vê-lo e só a sombra me faz companhia. Entretanto, sonho e assim o tenho, próximo a mim.
Busco-o na paisagem vazia. Nada, nada o traz, nem este lamento de amor, nem a tristeza de minhas mãos ensaiando uma só carícia que me nutrirá a vida inteira.

Indago as sombras, aborreço os dias à sua procura.
Imagino-o aqui e até nas aves o vejo.
Mas são sombras, são dores e a distância que, ao ensejo das horas nuas, dizem sempre que você não está aqui .

domingo, outubro 08, 2006

Ao meu amor

Meu amor,
ofereço-lhe o silêncio manso dos felizes e as manhãs preguiçosas de domingo para, juntos, inventar ternuras.
Apaixonada, entrego-lhe todos os mimos e a tranquila certeza da permanência.
Para você, meu amor, abro caminhos e meu coração à espera de sua cotidiana conquista.
Com você, troco livros, beijos e letras de música.
Tudo com devolução garantida em prazo longuíssimo, enquanto o amor durar. Troco minha solidão com sua presença e algumas flores. Volto-lhe meus carinhos meio embolorados de tanto esperar sua chegada.
De você, quero muito: seus olhos clareando-me e suas mãos em desenhos longos e audaciosos. Quero sua voz e alguma palavra de amor para animar meu dia.
É tudo o que amor precisa.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Faces

Não, amigo, não sou una. Há em mim, multidões, há pedaços de outras e seres inteiros e indefinidos que me completam. Há brincos de cigana e marcas de beijos. Minhas feras me habitam todas e algum anjo deixou fragmentos de asas por aqui. Manhãs me enchem de luz, para sempre tatuadas. Noites me habitam, em nudez e solidão. Vária, ando em fragmentos, desfruto deles e, com eles, choro. Algumas vezes, me aquieto; em outras, desato-me em rumos desconhecidos, pulando muros e tocando o sol. Há máscaras, de carnaval, umas; outras, negras, assemelham-se à morte. Sou muitas.

Lua, percorro meus mundos em busca de luz própria, perdida entre estrêlas desdenhosas a me cegar.

Bicho, carrego meus arquétipos da mata, da carne que se rasga e sangra em minha boca, na voracidade dos dias e noites e este medo que me tranca em cavernas.

Criança, acredito em promessas, em presentes, em futuros.

Mulher, desafio os deuses e os inconstantes amores e saio ilesa e forte, como do útero.

Beduína, rabisco outras trilhas de sol, fugindo da aridez dos antigos caminhos, das miragens, da sede, das dores.

Amante, devasso-me, desvasto meios-termos e hesitações, no transtorno lento ou célere da dança, tango? bolero?

Deusa, beijo as pedras terrenas por onde os pés do meu amor constroem seus caminhos, sem acreditar em minha existência.

Noite, calo-me na solidão das horas e espero o meu dia chegar.

Imagem: Bouquereau

quinta-feira, outubro 05, 2006

BORBOLETA


Venho dizer, amor, que dos dias, levo a cor dos seus olhos a me enfeitar.
A você, devo falar que, quando nada mais restar, ficará em mim a doçura de suas palavras de amor e as cores que acende em minha pele.
Para você, quero ser como a aurora dos dias, um sutil acordar que subitamente se revela em cores quentes.
Para nós, imagino caminho tranquilo, pés descalços e alma de borboleta para voejar tranquilamente sobre a vida, dela apenas admirando a cor e o perfume.

terça-feira, outubro 03, 2006

Insone


"Disfarçar minha dor, eu não consigo"
Chico Buarque

Se não sonho mais é por essa saudade que me impede o sono.
Se os meus sonhos se perderam é de ter amado tanto que não mais existem quimeras.
Acordada, sonho apenas com quem partiu, cigano, levando minhas pálpebras, deixando apenas retinas tomadas por uma única imagem de uma tristeza sem jeito, inútil, sem regresso. Só dor.
Acordada, dia após dia, sigo sua sombra que insiste na madrugada, fantasma do meu querer triste, anel de noivado que perdeu a pedra e a cor, falso.
Cansada de ilusões, tento me entorpecer e apagar sua mão da memória destes meus poros de infernais desejos.
Ai, eu tento, em vão. Rasgo suas fotografias, colo os pedaços, colo seus pedaços indefinidamente. Só os meus continuam dispersos por aí, à sua procura.

Imagem: Haley Brown

domingo, outubro 01, 2006

Amar


O que posso senão amar? Desfazer a febre dessa alma ansiosa e esquecer o segundo antes do milagre do beijo, como posso?
E o veludo que me toca, sendo, antes, chama?
Não quero a placidez das horas sozinhas ou a morte-vida dos insensíveis.
Preciso das flores crescendo em primaveras jovens.
Quero chuva, violência de raios arrancando minhas raízes e seivas de amor em meus caminhos.
O que posso senão amar?

Imagem: Faustino

sábado, setembro 30, 2006

Felicidade

Pode ser que a vida amanheça sombria, que o telefone fique mudo e as flores acordem murchas, tristes. Pode haver chuva e cinzas irrevogáveis.

Os cachorros podem decidir continuar dormindo enquanto procuro no espelho minha relutante beleza.

O café doce demais, o pão que não deu certo, o frio contrariando meu vestido. Pode acontecer.

A felicidade entretanto, sorri para si e me dá asas. Anjo? Não.
Saio de vermelho, desafiando a manhã.

Imagem: Dell'Orto

sexta-feira, setembro 29, 2006

Reflexos

Ando meio rio, meio riacho, em calmaria,
deslizando pelos dias e noites
em cuidadoso encanto.
Depois de algum tempo de tristezas comuns,
ouço minha voz em música suave.
Depois de lagoa de sal e, no entanto, negra,
ando por aí, riozinho despretensioso,
que passa admirando flores e reflexos em sua pele líquida.
Ando por aí, procurando o mar.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Dedicatória

Encontrei esta maravilhosa canção neste blog e resolvi copiar aqui, só para você.
Clique no título e se entregue a essas ondas, aos sons doces da canção, sons do mar e do amor, que dizem o que nem sempre podemos dizer.
A música, esse presente dos deuses, serve também para revelar nossos desejos e levar, até bem longe, palavras prisioneiras, apesar das janelas abertas.



CANÇÃO DO MAR


Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

Frederico de Brito / Ferrer Trindade.


Imagem: Frederick J. LeBlanc

terça-feira, setembro 26, 2006

Visita


Minha amiga mais constante está chegando.
Pressinto-a nas noites insones e nos versos desalentados que se repetem como goteiras de chuva forte, como lágrimas grandes, grossas.
Antevejo-a em páginas trágicas, as únicas que, em sua presença, leio.
Os olhos inúteis para a primavera e a essa dor ao sorrir são prenúncios de uma visita longa, repleta de silêncios.
Quando ela chega, torno-me fragmentos que choram pelos cantos de mim.
Quando ela se acomoda em meu coração, agulha em disco arranhado, aos saltos, apaga a música e interrompe minha dança.
Minha amiga mais provável havia se demorado, quase a esqueço.
Quase esqueço que retorna, retorna sempre.
É manto líquido das lágrimas que insiste em arrancar dos meus olhos,
por algum tempo fechados para a beleza das auroras.

Imagem: Langrenee

segunda-feira, setembro 25, 2006

ANIVERSÁRIO!!!!!



Havia esquecido.
Nesta semana, o blog completou um ano.
Creio que, por intermédio dele eu fui presenteada o ano inteiro com tanto amor e exageros carinhosos, com tantos amigos, tanta beleza, tanto carinho que, mesmo que deixe hoje de escrever aqui, nunca mais estarei vazia.
Ao contrário, estarei para sempre cheia de calor, do calor dessa amizade quem apesar de virtual, é intensa e perfeita.
Obrigada, meus queridos. Muito obrigada.
Sem vocês, eu nada seria.

As fores, como sempre, são presentes meus para mim.

Imagem: Rachel Ruych

domingo, setembro 24, 2006

Necessário olhar

De mim, já sabe as dores,
conhece as lágrimas e lamentos.
De mim, já conhece os vãos e os desvios,
já entende os receios.
Precisa agora, olhar dentro dos meus espelhos,
E neles ver os lampiões e acordes de amor
escondidos dos outros olhos aos quais não se destinavam.
À espera da sua luz, guardei-os cuidadosamente.
Guardei-os dos ventos violentos que agitaram
as cortinas e fizeram tremer as portas trancadas.
À sua espera, escolhi um ventinho calmo e leve para
que continuassem limpos e claros, meus cantos e luzes.
Longa, longa espera.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Amar é trivial?

Falar de amor é trivial?
Foi o que me disseram. Pode ser. Porém, amar é difícil.
Amar não é trivial.
Amar é, antes, saltar em abismos ou provar vinhos desconhecidos.
Não, amar não é fácil.
É, antes, curvar-se à inevitável tempestade, é tornar-se náufrago e querer imergir, entregue, finalmente vencidos todos os limites, abandonadas todas as resistências.
Amar é ansiar pela desordem na alma, no corpo, nos olhos que só querem olhar a miragem do amor.
É atropelar todos os sentidos, confundindo-os em quase delírio.
Amar é delírio.
Amar inebria, entontece, como diz a música.
Por isso, quando amo, as cores do mundo são outras.
Os espaços são imensos se meu amor não está e, mesmo assim, não me cabem, cinzentos.
Mas, se ele chega, todas as luzes se acendem e festas se iniciam.
A consciência do meu amor torna tudo agudo, pungente como bebida amarga e ainda assim, desejada, longamente esperada.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ainda a primavera


Meu amigo De Propósito deixou-me o poema do Alberto de Aragão e um verso nele se parece muito comigo:


"Quis de novo florir em sonhos e quimeras."

Ando sempre assim florindo,
mesmo que a primavera só venha amanhã.
Ando como flor à espera do sol,
ou borboleta,
indo-me em direção ao vento, distante ainda,
mas que me toca de leve,
embala-me em quimeras, como disse o poeta.
A primavera, mesmo que ainda não esteja,
é perfume e felicidade.
Como flor, anseio por sua chegada.

P.S. Amigos, estou em viagem e com dificuldades pra postar. Por favor, tenham um pouquinho de paciência. Volto já. Beijos e saudades.

domingo, setembro 17, 2006

Primavera

A primavera está ali, na esquina.
Tempo de florir, de sorrir, tempo de colher.
Em um certo poema, contei para quase ninguém
de umas sementes que havia plantado, esperançosa.
Quase todas continuaram sementes. Continuam além de qualquer visão. Não germinaram.
Também andei assim, por muito tempo, em escuridão, em profundezas invisíveis, por trás de paredes escondida.
Agora, crisálida, busco asas para me lançar, quem sabe, a venturosos dias de perfume, ébria talvez de infinitos sentidos, muito além de todos que existem. Talvez, íntima, de amor colorida.
A primavera. É ela que me busca e abre meus recônditos olhos para mundos felizes, quentes como os dias cheios de flores e aromas.
É a primavera que chega a meu coração antes, arca fechada e agora, cálice.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Sonhos

Que seria da vida sem os sonhos,
se estes são o sal dos nossos dias?
Não me culpe, se passo os dias a sonhar.
Se sonho sempre com o amor não sorria, indulgente.
O amor é a própria vida e, como a vida, surpreende, muda e atravessa mares e desertos em busca incessante.
Se também procuro, constante, a beleza na alma das pessoas, não zombe da minha busca, nem desista da sua.
Todas as almas têm sua gênese na beleza da perfeição.
Se a amizade é o que me fortalece, não diga que sou ingênua.
Sem amizade, não há alegria possível, nem certezas.
Sonhos, o amor, os amigos são os ingredientes que tornam a terrível luta mais humana e fortalecem os frágeis homens para seguir em frente.
Tenho amigos. Não tenho amor.
Sonho que meus sonhos se tornam realidade.
Sonho.

Imagem: Juarez Machado