terça-feira, outubro 31, 2006

DIA DAS BRUXAS


No dia das bruxas, espero acontecimentos grandiosos para todos nós, porque neste dia, as bruxas do bem (todas as mulheres) sempre unem seus pensamentos poderosos, voltados para a paz, a prosperidade, a fartura, a fertilidade, o respeito à terra e aos elementos que garantem a vida de todos os seres.

Nesses áridos e estéreis tempos, mais do que nunca, precisamos de suas bênçãos e de suas oferendas de amor, de cuidado e de respeito mútuo.

Nestes tristes dias, em que o ser humano se esqueceu de ligação arquéptica com Gea ou Gaia, as bruxas são os seres fantásticos que nos mantêm ligados à nossa mãe primordial.

Nestes tempos de desastres, de desamores e egoísmo, as lindas bruxas do bem, com seus encantamentos, nos remetem à nossa infância mágica e feliz, infância que nos mantém ainda hoje, antes, durante e depois da juventude e da maturidade, porque só quando fomos crianças conseguimos enxergar a magia do mundo.

Então queridos, vamos acordar com os sentimentos abertos para a beleza da nossa mãe Terra e agradecer por sermos seus hóspedes, tão privilegiados.

P.S. este texto é do ano passado. Eu o repeti por absoluta falta de tempo.

sábado, outubro 28, 2006

Sem sentidos




Eu, que tanto me sufoco em silêncios, quisera ser dona de todas as palavras e, num arranjo imprevisto e belo, dizer do meu amor.
Rosa ainda sem vento, quisera mover-me em você,
bailarina no seu compasso, em coleios, enlaces.
Minhas mãos tão quietas, depois de tantos gestos malogrados,
quedaram-se mudas.
Hoje, só possuo os sentidos toscos de quem sem nada viveu,
senão algumas lágrimas menos suaves
e ecos meio mortos em cômodos limpos,
onde cortinas tentam espiar pela janela se lá fora ainda há vida.

Por isso, não estranhe se por acaso, morrendo de amor em seus braços, eu apenas consiga dizer: amo você.

quinta-feira, outubro 26, 2006

MILAGRE


Que é feito de mim e de meus temores,
quando o amor envolve
e perfuma minhas mãos?
Onde pisam meus pés senão em flores?
Borboleta, fui desde sempre,
porém imóvel e opaca.
Se hoje minhas asas brilham é pelo milagre
de renascer em suas ternuras.
Por ouvir a música que o vento canta em seu jardim
é que me deslumbro em vôos.
Sim, ainda é sonho.
Ainda devaneio sob estrelas, espantada.
Mas sei que, se me transporto em asas multicores,
é ao encontro do amor que vôo.


Imagem: Jorge Coimbra

terça-feira, outubro 24, 2006

Espinhos

É madrugada e minha solidão vela o mundo. Quisera acordá-lo com meu pranto, mas há dores que não se revelam e cortam por dentro. Dentro dos meus olhos secos, espinhos tentam as lágrimas, pequenos demônios da dor. Arranham longe e sangro, na noite, eu sangro.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Definição


esperarei por ti até que todas as coisas sejam mudas.
Eugênio Andrade



O meu amor trouxe doces beijos e coloriu meus olhos com sua felicidade amarela e azul, com seus verdes frutos. Agreste, deixou em minha boca um sabor de sangue e em meus seios, qual em flores, a ternura de orvalhos. Meu amor é outono, é primavera.

O meu amor trouxe o riso e a espera que o dia se acabe para finalmente, qual criança, me colher em seu peito e acalmar minha saudade. Meu amor é suavidade.

O meu amor veio, corsário com flores, com mel e arrebatamentos e roubou-me das dores e das sombras. Roubou-me para si e suas audácias. Para mim canta canções inebriadas. Meu amor é vinho e seus aromas.

Meu amor é teia e me envolve na madrugada com cantigas que só os amantes conhecem e nele me revolvo insone e indômita. Meu amor é delírio.

O meu amor é violência de chuvas, arranca raízes, desfaz crepúsculos para amanhecer em sol radioso de beijos e murmúrios. Meu amor é, finalmente, paz matutina.

Imgem: Jason Edwards

sábado, outubro 21, 2006

Sobre viver



A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a dor do ser que se ausenta,
que se defende, que se fecha, que se recusa
a participar da vida humana.
Vinícius de Moraes




Não vivo sob guardas-chuvas.
Aprendo a viver todos os dias procurando a felicidade em palheiros.
Tento gestos cristalinos para mostrar meus terrores,
dissolvê-los em claridades e me lançar aos dias.
Diante da vida, não sou dura e muitas vezes, desfaço-me.
Quero me encontrar no amor, pois que sem ele não vivo.
Canto e me entrego à dança da vida, ávida de sonhos.
Não procuro asas desconhecidas nem me escravizo,
senão às minhas femininas fantasias.
Quero ser simples e feliz e, apesar de viver de ausências,
nunca desisto da alegria.
Cometo os meus erros sozinha e peco o quanto for possível
porque que outra forma há de viver senão sendo humano?
A vida me chama e vou sempre ao seu encontro. Vôo.
Estou sempre indo com minha única arma: a esperança.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Sinfonia



"E me indicaste o mar, com que navio"
Chico Buarque



Quando estava sozinha e apagada, pés pesados trilhando sempre os mesmos e cansados caminhos, com olhos cegos para minhas circunstâncias e exausta de tantas ilusões e desapegos, você chegou em devaneios, com "se", em mim, em fábulas de princesas e príncipes, desconhecendo os perigos e a escuridão. Roubou-me das estradas vazias, da desolação dos caminhos sem destino e me despertou dos sonhos cinzentos. Mestre dos mais variados carinhos, ensinou-me a vida. Há vida, finalmente. Em fá, em sol, lá e aí e aqui.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Amor tranquilo


Não tema, porque meu amor é tranqüilo.
Não o arrastarei para abismos em saltos no escuro.
Não o deixarei em retornos inesperados.
Antes, estarei aqui, guardada em ninho
para abrigá-lo das dores dos dias e dos medos noturnos.
Antes, embalo-o em mim,
meu frágil amor tão menino.
Imagem: Chagall

segunda-feira, outubro 16, 2006

Comparo-te ao mar

Comparo-te ao mar por tua constância,
Comparo-te ao mar por voltares sempre
e tomar minhas restingas.
Comparo-te ao mar por tragares os medos.
Comparo-te ao mar por tornares sal
o antes insosso.
Comparo-te ao mar, amor,
por me envolveres irremediavelmente,
ilha reencontrada
em teus carinhos avassaladores.
Comparo-te ao mar e seus segredos,
seus claro-escuros a me desafiar.
Comparo-te ao mar porque me perco em tuas cálidas marés
a me arrastar como flor em busca de luz.
O mar, o mar e tuas líquidas mãos,
e eu à deriva mergulhada em teus desejos.
Comparo-te ao mar por seres sempre começo.

sábado, outubro 14, 2006

Nua


Se o tempo é curto ou longo, não me importa.
Hoje resolvi ser feliz, em horas ou meses, por minutos ou dias.
Preparei meu banho de rosas e fiquei pétala, entre outras.
Fiquei por um tempo perfumada; fiquei para sempre macia.
Vesti-me de amarelo com flores abertas, vermelhas
e o espelho me disse, linda!
Por algum tempo, escandalosa, feliz; por muitos meses, colorida.
Nua, nua, disponho-me à entrega. Por um dia, para sempre?
O tempo não me mede, o tempo não me impede de ser sua.

Imagem: Ana Maria Russo

sexta-feira, outubro 13, 2006

Se me escondo assim em letras,
é que a solidão me fez perder
o dom das palavras.




Imagem: Dianne Poinsky

quarta-feira, outubro 11, 2006

Este amor


Viver este amor é ser duas pessoas com incertezas, mistérios e enleios.
É viver caindo em nuvens e indo e vindo em trapézios.
Por este amor, reviravolto-me.
Ah! quem dera fosse em seus braços.

Mas, como o poeta,

"agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto".

É isso, o amor. É assim o meu amor. Pêndulo.

Nascendo ao dia começam os tormentos da saudade e da espera. Penso que não vem, que nunca virá mas espero. Espero o dia passar e deliro, pura primavera e flor aberta ao seu amor.

Tantos dias incertos e o mundo opaco e as noites sombrias.

Se, enfim você chega, a madrugada rouba o sol e, fingindo-se manhã, queima-me e inunda o dia.

Imagem: Durwood Zedd

segunda-feira, outubro 09, 2006

Sua ausência

Hoje, tal como Dirceu, posso dizer que mil vezes finjo vê-lo e só a sombra me faz companhia. Entretanto, sonho e assim o tenho, próximo a mim.
Busco-o na paisagem vazia. Nada, nada o traz, nem este lamento de amor, nem a tristeza de minhas mãos ensaiando uma só carícia que me nutrirá a vida inteira.

Indago as sombras, aborreço os dias à sua procura.
Imagino-o aqui e até nas aves o vejo.
Mas são sombras, são dores e a distância que, ao ensejo das horas nuas, dizem sempre que você não está aqui .

domingo, outubro 08, 2006

Ao meu amor

Meu amor,
ofereço-lhe o silêncio manso dos felizes e as manhãs preguiçosas de domingo para, juntos, inventar ternuras.
Apaixonada, entrego-lhe todos os mimos e a tranquila certeza da permanência.
Para você, meu amor, abro caminhos e meu coração à espera de sua cotidiana conquista.
Com você, troco livros, beijos e letras de música.
Tudo com devolução garantida em prazo longuíssimo, enquanto o amor durar. Troco minha solidão com sua presença e algumas flores. Volto-lhe meus carinhos meio embolorados de tanto esperar sua chegada.
De você, quero muito: seus olhos clareando-me e suas mãos em desenhos longos e audaciosos. Quero sua voz e alguma palavra de amor para animar meu dia.
É tudo o que amor precisa.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Faces

Não, amigo, não sou una. Há em mim, multidões, há pedaços de outras e seres inteiros e indefinidos que me completam. Há brincos de cigana e marcas de beijos. Minhas feras me habitam todas e algum anjo deixou fragmentos de asas por aqui. Manhãs me enchem de luz, para sempre tatuadas. Noites me habitam, em nudez e solidão. Vária, ando em fragmentos, desfruto deles e, com eles, choro. Algumas vezes, me aquieto; em outras, desato-me em rumos desconhecidos, pulando muros e tocando o sol. Há máscaras, de carnaval, umas; outras, negras, assemelham-se à morte. Sou muitas.

Lua, percorro meus mundos em busca de luz própria, perdida entre estrêlas desdenhosas a me cegar.

Bicho, carrego meus arquétipos da mata, da carne que se rasga e sangra em minha boca, na voracidade dos dias e noites e este medo que me tranca em cavernas.

Criança, acredito em promessas, em presentes, em futuros.

Mulher, desafio os deuses e os inconstantes amores e saio ilesa e forte, como do útero.

Beduína, rabisco outras trilhas de sol, fugindo da aridez dos antigos caminhos, das miragens, da sede, das dores.

Amante, devasso-me, desvasto meios-termos e hesitações, no transtorno lento ou célere da dança, tango? bolero?

Deusa, beijo as pedras terrenas por onde os pés do meu amor constroem seus caminhos, sem acreditar em minha existência.

Noite, calo-me na solidão das horas e espero o meu dia chegar.

Imagem: Bouquereau

quinta-feira, outubro 05, 2006

BORBOLETA


Venho dizer, amor, que dos dias, levo a cor dos seus olhos a me enfeitar.
A você, devo falar que, quando nada mais restar, ficará em mim a doçura de suas palavras de amor e as cores que acende em minha pele.
Para você, quero ser como a aurora dos dias, um sutil acordar que subitamente se revela em cores quentes.
Para nós, imagino caminho tranquilo, pés descalços e alma de borboleta para voejar tranquilamente sobre a vida, dela apenas admirando a cor e o perfume.

terça-feira, outubro 03, 2006

Insone


"Disfarçar minha dor, eu não consigo"
Chico Buarque

Se não sonho mais é por essa saudade que me impede o sono.
Se os meus sonhos se perderam é de ter amado tanto que não mais existem quimeras.
Acordada, sonho apenas com quem partiu, cigano, levando minhas pálpebras, deixando apenas retinas tomadas por uma única imagem de uma tristeza sem jeito, inútil, sem regresso. Só dor.
Acordada, dia após dia, sigo sua sombra que insiste na madrugada, fantasma do meu querer triste, anel de noivado que perdeu a pedra e a cor, falso.
Cansada de ilusões, tento me entorpecer e apagar sua mão da memória destes meus poros de infernais desejos.
Ai, eu tento, em vão. Rasgo suas fotografias, colo os pedaços, colo seus pedaços indefinidamente. Só os meus continuam dispersos por aí, à sua procura.

Imagem: Haley Brown

domingo, outubro 01, 2006

Amar


O que posso senão amar? Desfazer a febre dessa alma ansiosa e esquecer o segundo antes do milagre do beijo, como posso?
E o veludo que me toca, sendo, antes, chama?
Não quero a placidez das horas sozinhas ou a morte-vida dos insensíveis.
Preciso das flores crescendo em primaveras jovens.
Quero chuva, violência de raios arrancando minhas raízes e seivas de amor em meus caminhos.
O que posso senão amar?

Imagem: Faustino