segunda-feira, julho 31, 2006

SINAIS


Sou uma mulher da minha idade inteira.
A vida, apesar de alguma delicadeza, usou-me sem condescendência.
Com calma, levo seus sinais na pele, nos poros, nas pernas, na alma e nas músicas que canto.
Carrego-os ora com orgulho, ora com certo pudor porque mostram vicissitudes: "os beijos de amor que nunca dei", as palavras caladas ou o carinho contido.
Os sinais em mim também são as belezas que meus olhos meio cegos conseguiram sentir nos gestos de amor, nas lágrimas de alegria e nestas pequeninas delícias que a vida sempre deixa na porta, na mesa, em olhares e palavras.
Mas, acima de tudo, estes sinais da vida o são do caos que me gera continuamente e das emoções e dos desejos que colorem e também ensombrecem meus dias.
Como sempre digo, frequentemente sou quase feliz.

terça-feira, julho 18, 2006

Talvez


Se você quisesse, bem que poderíamos sai por aí, por dentro de nós e colher umas doçuras, fingir de criança e nos beijar à tarde toda.

Se você deixasse, iria mostrar uns guardados ridiculamente cor de rosa e os desenhos das miragens que criei para nós dois.

Se você permitisse a fatalidade do meu amor e o tivesse em si como a roupa de que se despe ao se enfeitar diante dos meus olhos, eu lhe seria leve e calma como folha solta.

Se me ouvisse, eu lhe diria como inunda meu ser de todas as seivas, todos os rios e contraditórias correntes e, em dias de loucura, de um cheiro de animais marinhos remotamente lembrados.

E, se depois de tudo me quisesse, desceriam aos meus pés, deusas, iaras, valquírias, invejosas do meu contentamento e do meu amor.

P.S. Queridos, vou viajar por uns dias. Só voltarei em agosto. Por favor, cuidem do blog para mim. Beijos.

domingo, julho 16, 2006

Sombra



O ser humano é semelhante a um sopro;
os seus dias são como a sombra que passa.
(Salmos 144:4)




A dama quase cega passeia interminavelmente.
Move-a a mais completa dor.
Veste-se, ora de negro, ora de branco.
Em sua escuridão, não enxerga as cores da vida.

Dama cruel e abstrusa,
não há, porém quem a abandone.
Nem há surdos ao seu chamado.
Dama irresistível!

Move-a a mais inexorável dor.
Vai sempre sozinha, mas leva a constância do ser,
ela própria não sendo, por mais de um segundo
e depois, nada.
Depois, o nada.

À minha querida, linda, imortal amiga Vânia Daura, que se foi na sexta-feira, 14 de julho.

Imagem: Dianne Poinski

quarta-feira, julho 12, 2006

Lanternas Chinesas


Um poeta apareceu à porta e enfeitou minha noite com lanternas chinesas.
Quando percebi, estávamos enamorando em horas cada vez mais vivas e nosso canto de amor atravessava as cortinas fazendo dançar as calçadas.
Não temi olhar em seus olhos nem me desfazer em suas carícias.
Ele não se perturbou com minhas caixas fechadas, derrubou-as, abriu-as e abraçou com a ternura dos poetas minhas insignificâncias tão bem guardadas.
Seus carinhos longos eram véus, névoas atordoantes e meu coração quase parava.
Enquanto permaneceu, havia calor em meu sangue e meu olhar engolia sua luz.
Foi-se depois e, por um tempo, meu mundo girou ao contrário.
Mas fez de mim passarinho e ainda hoje, a claridade que deixou enfeita meus sonhos e me faz cantar.

Imagem: Keren Su

segunda-feira, julho 10, 2006

FESTAS E PRESENTES

O aniversário foi um sucesso, as festas maravilhosas. Cantei dois dias seguidos.
Os carinhos e presentes foram tantos que estou exalando felicidade pelos poros e olhos. Estou com uma reserva de alegria que durará até o próximo ano, tenho certeza. Adorei tudo, é claro porque, como criança, espero esse dia com muita ansiedade. Recebi centenas de mensagens, comentários nos blogs e meu scrap no orkut ficou lotado de carinhos. O que mais querer na vida senão amigos como esses que tenho?
Agradeço a todos.
Vejam alguns presentes: ganhei um espaço para publicar na comunidade dos blogs. Serei colunista permanente lá. Por isso, desde já, convido a todos para me visitarem em sextas-feiras alternadas no http://comunidadedoblog.zip.net/
Meu próximo texto lá, será no dia 21/07.

Ganhei um lindo template novo da Fada Azul para o meu blog Escrevinhações: http://lidosevividos.zip.net.

Entre os poemas que recebi, vou mostrar dois que são perfeitos.
O primeiro recebi do Manuel, em forma de post, muito divertido no
http://de-proposito.blogspot.com/2006/07/dia-de-anos_09.html.
O segundo foi do Moita. Os dois são amigos queridos.

DIA DE ANOS

Com que então caiu na asneira
de fazer na quinta-feira (1)
vinte e seis anos! Que tolo! (2)
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
de quem tem muito miolo!.
Não sei quem foi que me disse
que fez a mesma tolice,
aqui o ano passado...
Agora, o que vem, aposto,
como lhe tomou o gosto,
que faz o mesmo. Coitado!.
Não faça tal; porque os anos
que nos trazem? Desenganos
que fazem a gente velho;
faça outra coisa; que, em suma,
não fazer coisa nenhuma,
também lhe não aconselho..
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
às vezes por brincadeira,
mas depois, se se habitua,
já não tem vontade sua,
e fá-los, queira ou não queira!.
João de Deus
(1) Não foi na 5ª-feira, foi no Domingo, dia da postagem.
(2) Também não foram 26 anos, e não é tolo, é tola
Nota: A aniversariante é uma amizade 'virtual'.
Para ela e para todas as pessoas que fazem anos n'este dia, MUITOS PARABENS e um mundo de felicidades.
**********************
Menina de quase trinta,
aniversariando assim.
Parece um lírio do campo,
uma orquídea, um jasmim,
uma safira, um brilhante,
um rubi, um diamante.
Escultura de marfim.
Moita
P.S. 1. Esse "quase trinta" é gentileza dele.
Mas o mais lindo e emocionante foi este da minha amiga mais querida, Rose:
HOJE
Hoje pedi para
Deus especialmente
Te abençoar
Cuidar do teu sono
E do teu despertar.
Multiplicar os teus dias
E tuas noites
De alegrias, completar
Te dar um amor
Que te ame
E te ajude a sonhar.
Que sonhem
Sonhos gigantes
E os ajude
A realizar
Hoje pedi para
Deus especialmente
Te abençoar
E te olhar com
Carinho
Querida Saramar

sábado, julho 08, 2006

ANIVERSÁRIO

Apesar do acúmulo inesperado de dias, meses e anos, continuo lá na infância, quem sabe na adolescência?
Ainda vejo cangurus e flores nas nuvens deste céu onde geralmente finjo que estou, que me pinta de azul e dos meus olhos faz luzeiros.
Ainda brinco, rio e choro sem nenhum motivo e busco um colo onde adormecer minhas vontades e meus carinhos.
Ainda procuro pedras e sonhos nas mesmas calçadas que viram meus primeiros passos e suspiraram comigo naquele beijo inaugural de todas as ilusões que continuam em mim, sempre maiores, à medida meu contador de tempo vai se tornando imenso.

A felicidade sempre aparece em minhas fotos e nos meus dias. Em alguns, personagem principal. Por isso digo que quase sempre sou feliz.

P.S. do post: como adoro festas, terei não uma, mas duas festas de aniversário. Então, só voltarei na segunda (se sobreviver a elas).

Imagem: Gary Max Collins

segunda-feira, julho 03, 2006

Dúvida


O que há em seus olhos que me faz perder o sentido
das horas e pisar em pétalas, como borboleta?
O que haverá em meu peito que me leva a me debruçar
sobre o seu e perder o sono e a calma?
O que mais haverá além deste meu coração embriagado,
tonto de amar mais do que devo?
Imagem: Reinaldo Monteiro

sábado, julho 01, 2006

O que acontece quando o amor acontece?


Quando o amor acontece, assemelha-se a um transe ou um tranco e todas as borboletas se soltam do casulo do meu peito e saem pela tarde, suaves e coloridas.
Todas as bobagens românticas começam a acontecer como um filme açucarado a repetir nuvens e estrelas e músicas que foram escritas para o meu amor, todas.
Quando o amor acontece, minhas pernas ficam confusas e ando em danças.
Em arcos, meu corpo é meu avesso, despido de fortalezas, rendido, sem receios ou dores e então, vivo um feitiço de todas as cores, nos poros, na boca.
Todos os desígnios se desenham no meu amado e sou dele para sempre, Julieta, Scarlett, Florbela e Maria.
Quando o amor acontece, minha vida é carrossel de certezas girando em beijos e sonhos e também a ausência mais perfeita de receios, porque, entregue, deixo-me nos braços do meu cavalheiro andante.
Quando o amor acontece, é outro dia, outra vida, outro inquietante existir, pêndulo em que me lanço, dos nossos desejos.

Imagem: Robert Duval