segunda-feira, julho 30, 2007

MÁRIO QUINTANA


Do Amoroso Esquecimento
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo...
De lembrar que te esqueci?

(Espelho Mágico)


Os passarinhos,
as ruas de Porto Alegre,
a alma da poesia mais pura,
a alma de passarinho nas ruas,
alegre, alegre,
o porto de poemas,
soltos, soltos.

Quintana,
passarinho solto no céu,
colorindo almas de anjos.

Poeta,
pequenino pela pureza de sua alma-criança,
imenso pela grandeza dos seus versos.

Ave, Poeta,
para sempre vivo,
hoje nascido em 1906,
sempre menino das mãos de ternura.
Ave, passarinho.

Imagem: Vera Basile


Hoje há um pequeno poema lá no blog do Leo. Por favor, clique aqui.

domingo, julho 29, 2007

Presentes de amor



Meus amigos, meus queridos, sempre compartilho aqui, os presentes que recebo e que me tocam a alma. Todos os presentes que já mostrei estão guardados num canto iluminado da minha alma e no espaço especial, só meu, onde os deixo para meu deleite. Quando estou triste, ou ansiosa, refugio-me neles para me refazer com o amor dos meus amigos.

Ontem recebi dois presentes. Um deles, vivo, voando em minhas mãos, o cheiro enchendo o ar, desde a calçada (até os vizinhos notaram) e eu já o sabia saboroso antes mesmo de olhá-lo. Um namorado.

Antes de descrevê-lo, tenho que falar de como é difícil amar de longe. Eu não sabia. Não sabia dessa vontade de olhar nos olhos e dizer "obrigada por existir". Nem imaginava que fosse possível admirar e se apaixonar à distância.

Que bobagem! Claro que é possível porque temos as palavras, coisa mais divina não há.

A voz que nunca ouvimos está nas palavras,
os olhos que nunca miramos podem ser admirados nas palaras,
o carinho sempre encontra seu destinatário através das palavras.
Em uma palavra, encontramos a beleza. Basta uma.

Desculpem, meus amigos por falar tanto. É que estou feliz daquele jeito que quem me conhece sabe. Estou boba de felicidade.

Ontem, depois de longo vôo, pousou em minhas mãos, "SUINDARA". Veio direto do Acre para minhas mãos e olhos ansiosos. Trata-se do livro da minha querida, admirada, amada amiga LEILA JALUL. Meu mais novo namorado, que hoje acarinhei o dia inteiro, de forma especial.

Leila é escritora, poeta, artista plástica e escreve, em jornais, blogs, sites, nos muros, na alma da gente, as suas palavras de encantamento, de verde feitiço daquele povo da floresta. Escreve também as lidas da mulher, no chão, na fazedura do pão, no urdir do amor. Tudo ela sabe e quase tudo diz.

Falei em dois presentes. Além do meu mais novo namorado, o livro SUINDARA, Leila ainda escreveu que estou lá entre seus carinhos, na apresentação. Eu vi ontem. E perdi as palavras entre as emoções, as lágrimas felizes e um amor de longe, mas imensurável. Só hoje, consegui falar.

Obrigada minha amiga.

Por favor, vejam sobre o livro aqui: SIUNDARA

quinta-feira, julho 26, 2007

Ainda brinco

E agora, brinco. Só porque não perco essa mania de rolar em seus braços, de lembrar do suspiro do seu cansaço se desfazendo em meu corpo, dos seus olhos alheios ao fogo, ao vinho que derramamos, seus olhos profundamente perdidos no prazer mais inocente de nossas mãos, agora imóveis, depois da longa sinfonia.

Não, não perco essa mania de me sentar aos seus pés, enquanto leio, brinco com uma poesia, versos de amor de grande poeta e tão menor, tão menor que nossa ternura (o que sabem afinal, esses que escrevem?). E sua voz repetindo os versos que dizem "eu te amo", do jeito que os poetas dizem, com flores, corações partidos, ventos, montanhas, rios a desaguar até que o poema termine e sua boca, imitando a minha, beija os lábios mais amados.

Ah! meu amado, não me canso de o buscar e todas as manhãs, os domingos, os dias que hão de vir, que sem você não são dias, não são nada.
Dormindo, acordada, em insônia, em tempos sem fim, perdidas as horas, não me canso de o amar, não me esqueço de brincar de amor, do meu amor por você, sem fim.

Insubmissa, brinco. Busco a menina que você deixou em mim.


Imagem: François Quilici

quarta-feira, julho 25, 2007

Acaba em mim, o inverno

Já sinto os ares de agosto
e seu prenúncio de primavera.
Já não sou mais borboleta, mas ainda carrego as cores armazenadas, do ano passado.
Dos perfumes que meu amor deixava aqui e ali, guardo resquícios, réstias da luz dos olhos dele, guardo os sonhos.
Pensar na primavera sempre me deixa eufórica como se o meu amor, finalmente abrisse os braços para me perfumar com seu cheiro, para eu me perder nele, abelha no pólen e casulo para que em mim, se aqueça.
Das andanças dos dias, das estações, das pausas, das vidas, sempre carrego a esperança das flores em seu eterno e prenhe retorno.

Imagem: Ona

terça-feira, julho 24, 2007

Se fosse tempo de sorrir

Se fosse tempo de sorrir, amor,
iria convidá-lo para a festa
pela banalidade dos relógios,
todos mudos, inúteis
agora que você chegou.

Se fosse tempo de sorrir,
em serenata solitária,
eu cantaria em um fado,
a fábula do nosso amor,
encheria a noite de cor.
(a lua me acompanharia)

Se fosse tempo de sorrir...

Mas agora, é a hora das pedras
de tanto sangue banhadas,
mais lembram uma guerra.
é hora das pedras que caem,
é hora das pedras que cobrem
os homens, quase pássaros
e seu último voar.

Agora, é hora da dor
e há tantos relógios parados,
não pelo fim da espera.
estão para sempre mudos,
pela morte, pelo horror!

Imagem: Leonardo da Vinci

sábado, julho 21, 2007

Manhãs

Todo dia havia uma esperança
no alumiar da manhã
e eu andava pelas calçadas em cantorias,
parecendo gente feliz.
Toda manhã havia uma esperança menina,
e o perfume bom que a esperança deixa no ar.
Andava pelas ruas indo encontrar algum milagre que a noite deixara
por meio do sonho,
por arte do querer.

Sabe? Eu esperava você.
A cada esquina que surgia,
origami de se dobrar
o encantamento de (quem sabe?)
o encontrar.

Eu esperava você.

Minhas pernas hoje vivem perdidas,
nem sabem que rumo tomar.
Meus olhos, coitados, cansados de espreitar
evitam virar a rua,
seguem pela alameda reta,
cegos de tanto esperar.

(Preciso de descanso para meu coração,
cansado desse amor sozinho
que me habita sem contemplação
).

Imagem: Nicholas-Hely-Hutchinson

quarta-feira, julho 18, 2007

Meu canto




Canto,
para enganar a angústia dos dias.
Eu canto alegrias.
Desamparada diante do que não sinto,
as notas, tons de antes,
muito me custam.
A garganta nem sabe se canta,
ou se este vento
que a toma de tempos em tempos,
é lamento.
Canto. E enquanto os versos,
cúmplices de sua melodia, dançam,
vou enganando a angústia e o mundo,
vou iludindo o senso e, por querer,
canto, esperando você.

segunda-feira, julho 16, 2007

Amo você

Amo você sem pensar na imposibilidade de saber dos rumos que procura e de quanto desencontro há entre os meus e os seus caminhos. Não me importa o muro, o mar, as milhas ou meu mundo vazio do seu.
Encarcerada neste amor, persigo devaneios mesmo quando já vai alto o sol.

Muitas vezes, qual criança, fecho os olhos e peço a algum dos mil deuses do amor que virem os pólos do mundo e os seus olhos para mim. E nessa prece, uma esperança se abre maior ainda que tudo que espero. Como se fora criança, acredito que, amanhã, se saberá também envolto nesta loucura.

Amo você e, se fosse capaz de belezas, escreveria,
em folhas coloridas de paixão,
o mais imenso poema de amor e entrega a você, meu amor,
que nada sabe de ontens, de noites ou de sonhos sem amanhã.

Imagem: Sinclair

domingo, julho 15, 2007

Luz e sombra



E nos demos nomes de amantes,
e nos provocamos com paixão.
E me dizias Helena, de tanta beleza, perdida.
Pulsamos juntos nas páginas do nosso amor,
mudando o ritmo do mundo.

Agora que és apenas a minha saudade,
tão enorme te tornaste
e entranhas o meu mundo
como areia de tempestades.
Dos romances que encenamos,
restou apenas a tragédia de quem ama sem ter amor.

Imagem: Ian Winstanley

sábado, julho 14, 2007

E agora finjo



De um refúgio branco,
minha solidão se disfarça,
finge não ser.
mas das flores onde me escondo,
ficam sempre as cores
vermelho de dor, verde de espanto.
fica o aroma do vento
um tormento do que ora lembro
quando queria o esquecimento.

Imagem: Koller

quarta-feira, julho 11, 2007

Indelével

Foram seus sonhos que invadiram os meus e
seus pés, os descobridores do meu caminho.
Foi sua pele que coloriu minha boca.
Esse meu jeito de sorrir,
desconcertando manhãs
ainda com cor da noite,
veio da lembrança de suas mãos.
Os olhos de pássaro,
você os deitou em mim,
viageiro do mar
e me cobriu de indelével azul.

Lavo as mãos da culpa de amar você,
sem medo, sem esperança, sem fim.


Imagem: Henry Matisse

terça-feira, julho 10, 2007

Poema?





Meu poema?
vento.
e palavras pousam desarrumadas
sobre qualquer papel.




Hoje há um poema novo lá no lindo blog do Leo.
Gostaria de ler?

segunda-feira, julho 09, 2007

VINICIUS


"Um dia, o maestro Antônio Carlos Jobim, atônito com a inconstância amorosa de seu parceiro, perguntou ao poeta Vinicius de Moraes: 'Afinal, poetinha, quantas vezes você vai se casar?' Vinicius (...) num dos seus improvisos de sabedoria, respondeu: 'Quantas forem necessárias'. O maestro não devia estar assim espantado. A inconstância foi um defeito que Vinicius transformou em suprema qualidade. Um erro feliz. Ela não tomava conta apenas de sua vida amorosa, mas dava o tom de sua realação com o mundo. Talvez nem fosse inconstância. Era, seguramente, um atributo que não devia ser confundido com a leviandade, com infidelidade ou fraqueza de caráter. Vinicius foi um homem sem limites, que não admitiu poupar a vida como se ela fosse um estoque limitado e frugal de emoções, que não permitiu que a avareza triunfasse sobre a generosidade. Tornou-se, com os anos, um homem abundante, que não tinha nenhum respeito por sentimentos melindrados como o medo, o comedimento ou a mesquinhez.
(José Castello, em Livro de Letras, Vinicius de Moraes)

Há vinte e sete anos, cancelei minha festa e chorava na sala de aula a morte do Poetinha, do amante de todas as mulheres, do genial artífice dos mais lindos versos de amor, das belas músicas e, acima de tudo, do homem livre, libertador que foi Vinicius de Moraes. Ele tinha que morrer? E ainda mais no dia do meu aniversário?


TERNURA
Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade
o olhar extático da aurora.

sábado, julho 07, 2007

Quem dera um alguém para ouvir,
um olhar cúmplice
de semelhantes lágrimas,
de já haver sentido o que preciso
tanto dizer.

Quem dera haver.

Imagem: Carl Holsoe

sexta-feira, julho 06, 2007

Um sonho

Em alguma madrugada insone,
desejei-te tão intensamente
e foi tão imenso o meu apelo
que talvez tenhas chegado
como um verso inspirado,
uma luz que se abre na noite
ou o último acorde
de uma canção de desespero.

Talvez nem tenhas existido,
talvez tenhas sido algum devaneio
de minha alma desejosa,
um anjo, algum destino
que se foi, assim como veio.

(o que resta quando morrem os sonhos?
quando secam, enfim, as rosas?
)

quarta-feira, julho 04, 2007

Se

Se juntasse os dias, se juntasse as dores,
talvez povoasse essa solidão.
Se fosse uma festa, um desaniversário
e pudesse enfim, desfazer os erros
de todas as manhãs
e apagar essa tristeza inútil.
Se sei que a vida é assim e nada adianta,
por que não sair em meio à festa,
antes que até as lágrimas me deixem?
Por que não esquecer?
Se me olhasse com outros olhos
e não me sentisse assim.
se, se, se...
Se eu fosse um casulo em seu dia de colorir.
Se...

Imagem: Sivwanowicz

domingo, julho 01, 2007

Amo-te

E lá se foi outra estação.
É lá fora porque em mim,
os dias não passam para o meu amor de sempre.
Eu que sempre te amei, amo-te mais, a cada curva de tempo,
a cada anunciação das eras.
Amo-te há milhares de anos,
nas sementes antigas de ilhas desconhecidas,
nas arcas, nos barcos, com a ânsia dos náufragos.
Amo-te nas pedras.

Amo-te nos dialetos mortos e nos conhecidos, em hieroglifos e bites,
nos desenhos das areias e nas gravuras de Warhol,
banal, ou profundamente cravada na escuridão de antigas lápides.
Nos pergaminhos, nos manuscritos,
nas flores secas em reais diários.
Em iluminuras e na impureza das ruas negras de miséria.
Amo-te nas trevas.

Amo-te na fumaça dos tempos, dos tidos e havidos, dos táxis,
nas guerras e em Arcádia, no dorso dos cavalos e no doce pastoreio.
Na fogueira das feiticeiras e nas alcovas de deleite,
na mágica dos alquimistas e no circo dos palhaços.
Amo-te sem oráculos, sem limites, sem sentido, sem laços.
Amo-te nos astros.


Imagem: Gustave Deloy