Quer saber? No momento em que vivo, vivo demais. E a noite não cabe em mim e nenhuma chuva me alcança, nem lábios de morder, nem serenatas. Não há noite, não vejo estrêlas. Ando ao sol, em lutas. Meu cavalheiro, à distância protege-me os flancos e toca-os, em quente ternura. Incontida, desmonto fases, faces, lanço ao fogo todos os medos. Minhas máscaras estão cegas, não mais me servem.
Mas os pedaços de fantasia guardados, retalhos de antes, abrem alas em meus próprios pedaços. Despeço-me de qualquer dor, embrulhada nos mantos de Vênus.
Neste dias, vivo demais.
Imagem: Alfred Gockel