segunda-feira, março 31, 2008

Pressentimento


O que pressinto, não nego,
tem a música dos inocentes,
como tentar, a borboleta
alcançar altiplanos
ou ouvir, dos anjos,
o sopro de algum segredo.
O que pressinto, não nego
são asas que me emprestas
de seguir contigo, em sonho,
no amoroso caminhar.
O que pressinto e só digo
ao meu coração alvoroçado,
é do tempo,
é dos caminhos sem chão ou pedras,
por onde vens, por onde vou.
O que pressinto, não nego,
é o rumor de teus pés
e o momento do meu perfumar
para ti,
que pressinto.

terça-feira, março 25, 2008

Do amor que nunca morre


Quantas vezes já te esqueci?
Quantas?
Perdida a voz
e essa dor, esse sofrer!
Não cabe em mim tua ausência,
não cabe,
espraia-se alma a dentro.
Mesmo solta em festa,
ou nas cinzas de todo sonho,
não cabe em mim
saber-te incerto,
por outros braços, colorido,
perdido em outros beijos,
como se não tiveras existido,
como se não tivesses sido
o ritmo, a eternidade,
o instante de superar o medo.

(a vida dói, esse amor não acaba...)

Imagem: Rossetti

quinta-feira, março 20, 2008

Feliz Páscoa!


E se a páscoa vier assim com um desejo pequenino de só olhar
para aquela pessoa insuportável e dizer bom dia?
Se vier sem imensas pretensões de ressurgirmento, de renovar tudo?
Se vier só com um coração meio bobo e momentaneamente aberto
para coisinhas carinhosas, como escrever um bilhete
dizendo que está com saudades?
Uma páscoa com ovos de chocolate
e sementes quase invisíveis de amor
por essa humanidade inteira que só quer ser feliz?
Se for uma páscoa sem pé nem cabeça,
sem ovos, sem coelhos, sem nada,
sempre se pode dar uma olhada lá por dentro da gente
e encontrar uns pedaços de infância,
ou resquícios de amor adolescente
ou vozes de amigos que continuam música em nossa cabeça.

Eu sou muito pequena para páscoas triunfais,
mas renasço a cada dia, a mesma ou outra.
Por saber que isso é possível,
desejo-lhe a sua páscoa, do seu jeito,
imensa ou mínima, seja lá como for
e com o meu bilhete dizendo
que sempre sinto saudades de você.

Imagem: Peter Mitchev

domingo, março 16, 2008

Dos desertos em mim, sem você...


Eu que, antes,
queria tudo ontem,
atravesso o meu deserto com calma,
lambendo feridas de quem se perdeu
do amor,
arrancando, do peito, as adagas de quem perdeu
seu amor.

Eu, que quis tudo antes
e julgara para sempre o que foi breve,
contemplo com calma,
o acaso dos seus desejos,
dos laços, antes dourados,
agora, vermelhos, rasgados.

Eu, que tanto pedi, urgente e sem pejo,
e esperei o riso, a boca, o beijo,
deixo-me ficar, após encerrar-se a cena,
deixo-me aqui, sozinha,
emudecendo as luzes,
descosturando silenciosamente as fantasias
que juntos bordamos em telas oníricas
azuis, azuis, como o amor.

Deixo o desenho a duas mãos, falso
e parto, sem chão, sem pátria.
Deserto
deserta de você, deserto de mim.

Parto tranquila,
tranquilamente.
mente,
mente, minto,

(não suporto dormir sem suas mãos entre as minhas)

Imagem: Enriqueta Kleinman

segunda-feira, março 10, 2008

Solstício



É de fogo a tarde e te pressinto,
semente para sempre plantada,
que acalento e guardo.

O fogo que alimento
se queda brando em longa preparação,
e, em ímpeto de voraz arder,
queima o que em mim existe
de triste,
depois.

Em toda chama, amor,
guardo-te.
Em toda chama, o que poderia ser,
o solstício de nós dois.

sexta-feira, março 07, 2008

PELA MULHER


Blogagem coletiva “Pela valorizacao das mulheres Brasileira” proposta pela Lys e a Meiroca

Mulher, desnude-se.
Fique, enfim, nua
de todas as peles
que não são suas.
Rasgue o peito,
mostre a alma
apague do seu corpo,
a marca por outros posta
que você não é bicho
de se marcar.
Mostre a cara,
faça a festa
do seu sentir.
Constrói a vida
sobre a flama
do que você é
sob a máscara
de quem a desfez,
de quem a quer nua
da sensatez.



Hoje também estou aqui.

segunda-feira, março 03, 2008

Meu amor, de mar e vento

Eu te quero como quer o vento,
as folhas de acariciar,
leve ou violento.
A menina que ainda sou
quer o arquejo de amante
perdido no perfume que nasce em mim,
do teu desejar.

Eu te quero preso em meu paraíso,
alheio ao tempo que, fora de mim
e de ti,
persiste na sina de peregrinar.
Assim prisioneiro, não o verás,
nem eu,
que só conheço dos teus braços
e de tua melodia nos meus cabelos
vento, vento de me endoidar,
leve ou violento.

Eu te quero meu mar, imenso e inteiro.
Destino a tuas mãos, meus remansos.
E se te afastas, ou se tentas
a mais doída liberdade,
se foges ao encanto que hora lanço,
hás de voltar, hás de vir
leve ou violento.
Pois que, sendo eu, sem ti,
um deserto,
és meu vento de desatinar.

E não foge o vento de sua sina,
nem o mar de onde quer se deitar,

Leves, violentos.

Imagem: Lionel Noel Royer