terça-feira, novembro 27, 2007

PRESENTE DE NATAL


Neste natal espero um presente.
O amor presente, de presente para mim.
O amor e seus laços encarnados,
o amor em sua caixa de sonhos e promessas,
o amor amarfanhado de tanta demora,
de haver se perdido por outros caminhos,
meio torto e cansado,
das agruras do caminho que percorreu.
Não importa.
Pego o meu presente como toda criança encantada,
como toda criança carente.
Solenemente.
E o abraço, beijo, arrumo.
Desamasso o amor, colo os pedaços
do amor que tanto esperei.
Para ele, presente também serei.

terça-feira, novembro 20, 2007

Meme de mim...


A Betty, minha querida amiga, gentilmente,
incluiu-me entre os convidados para esse meme,
que continuei ao meu modo.



De todas as horas do dia, vivo na madrugada
olhando os astros, namorando estrelas.
No meu dia, se vazia, percorro a casa
tocando o móvel onde me refaço e
encontro meus namorados:
a velha estante de livros.
Se choro ou rio por um verso
ou uma imagem me sufoca
procuro o precioso líquido da vida,
a água de beber
de abrandar o que, porventura, dói.
Em todos os rumos por onde ando,
admiro a fecunda doação da terra:
na rubra pedra preciosa, o rubi,
multifacetado coração;
na árvore que enfeita o dia,
flamboyant da minha terra,
imenso e belo;
na orgulhosa flor, a orquídea
e sua misteriosa beleza;
no animal que me acompanha
nas vazias madrugadas,
meu cão acostumado a ouvir estrelas.
É belo e farto o colo da natureza
e de sua cor amarela, encho meus olhos,
gira-ensolarando os dias.
Os privilégios da vida,
colho-os todos em reverente agradecimento:
uma música de Chico a dizer Eu te amo
nos mais doloridos versos do abandono.
um livro, entre tantos,
Pessoa e o Livro do Desassossego,
meu namorado preferido.
Desfruto dos sentidos,
e uma comida me leva a pecar de gula,
o melífluo molho sobre o macarrão de minha mãe.
Não há igual em nenhum lugar, nem em Portugal.
Sou tantas vezes feliz,
que o verbo que me denomina,
se verbos o pudessem fazer, é sorrir.
Se não posso ainda viver sorrindo,
se a solidão me impede de cantar,
sem querer, eu digo ao vento
minha favorita expressão: vai passar.
Vai chegar o mês de janeiro
a chuva, o amor, quem sabe...
Depois de janeiro, talvez, deixarei ser só eu e
seremos o mais perfeito número: dois.
Então seremos música e
no instrumento musical mais pungente,
um violoncelo
inventaremos sonatas de amor e beijos.
Assim passaremos essa estação do ano e,
mesmo que lá fora chova, dentro de nós será verão.
Quem sabe até um filme seja refeito: um Violino Vermelho
dos dias que viveremos, coloridos de paixão.

Imagem: um flamboyant

domingo, novembro 18, 2007

Mágico


Quem deslocou o prumo
da minha vida calma
e levou para além dos meus jardins,
as asas de borboletas tontas
em perfumado êxtase?
Quem dispersou as sombras
e inaugurou girassóis,
entumescendo os dias em bolhas de sabão?
Quem desfez a prisão
e soltou de mim,
todos os ritmos presos,
as falhas, as faltas da triste cantiga
que assombrava as flores?

Foi o amor que trouxe as chaves,
abriu todas as trancas e desfez-me da prisão,
com a tranquila certeza de quem quer.
Foi o meu amor, para quem até as flores,
que eram minhas, vão em perfumada fuga,
em busca do encantador dos dias.

Imagem: Odilon Redon

segunda-feira, novembro 12, 2007

Da loucura, a mais doce




O amor, quando existe não se cala
nem contém sua própria nudez.
Entrega-se de alma ao provável abismo
que adivinha e geme e grita
pela insensatez que se avizinha.

Aquele que dessa insânia vive,
não quer afastar de si, a loucura.

Quem o merece e tem de outro ser
essa oferenda, sabe bem
do que é morrer e vir novamente
beber nos olhos de quem se ama, o veneno,
o irresistível vinho que queima a pele
e a vida, em embriaguês e doçura.


Hoje, há um poema meu aqui .
Gostaria que lesse. Obrigada.

sábado, novembro 10, 2007

A fome, a fome do amor


O amor, esse enlaçar-se em outro sangue,
é lauta fantasia
e viver a pão e água,
que nunca é satisfeito o amor.
Ainda que viva vermelho,
é sedento,
é faminto.
Seus êxtases não se fartam.
Antes, nebulosos, abrem côncavos
para infinito refazer, sempre outro e mais.
O amor é voracidade.

Imagem: Dermot Oates

quarta-feira, novembro 07, 2007

Hora nossa que vem, apesar do vento

Da sua hora e da minha,
sei do vento que leva,
como se nos cortasse,
como se separasse o meu existir e o seu.
Mesmo só, tantas vezes triste,
espero,
porque sei das horas e sei que existe
em toda solidão de quem longe vive,
o sonho, o dia novo,
dia de construir uma hora
única, livre,
de refazer o tamanho do mundo
e rir do vento.

(nos seus olhos enxergo
o outro universo).


Imagem: Adolf von Menzel

domingo, novembro 04, 2007

Noite


"E tanto penso em ti, ó meu ausente amado!
que te sinto no Vento e a ele, feliz me exponho"
(Gilka Machado)



Um incêndio na noite, apagando veleidades de sombras
é o teu riso que contemplo e onde teço o meu abrigo.

Gardel traduzindo noites em túmidas madrugadas,
é tua voz a enlouquecer as estrelas que trazes contigo.

Oh Deus! É tarde e chove na noite. Lá fora,
molhada dança de flores e ramos, no meu jardim.

Invejo-os. Depois da janela, minha saudade,
o vinho esquecido no solitário copo, quem dera sua boca...

Haverá o dia, a chuva e a fogueira na noite
e eu, multiplicando estrelas, em ti, em ti...

quinta-feira, novembro 01, 2007

Construção


Farta de concordância,
desato o verbo e
exijo a construção
das crianças
com a argamassa
do sonho e do riso.
Refaçam-se as metáforas,
povoem os livros de flores
e enxotem as palavras
de ordem.
Acabem com os sujeitos ocultos
da guerra e seus objetos mortíferos.
Ressuscitem a alma das crianças
para chorar as crianças mortas
enfim inatingíveis por obuses
e pelos absurdos cruéis dos
monstros carnívoros,
senhores das armaduras,
das frases duras.
Procurem outros tempos
em que os verbos se conjugavam
no presente e no futuro,
traduzindo-se em esperança.
Apaguem as orações radicais
e em seu lugar deponham as armas.
Destruam as onomatopéias malignas
das balas tracejando em corpos
infantis e cobrindo de vermelho
a infância e a juventude.
Desmontem os mísseis,
trocando-os por cartas de amor,
de amizade, de perdão.
Acendam a luz nos olhos
dos velhos, cansados de
procurar a mensagem
dos deuses em sangue e lágrimas.
Basta de antônimos,
queremos igualdade de termos
queremos construir juntos,
os versos livres,
os versos brancos da
PAZ!

Este texto integra a blogagem coletiva
proposta pelo Jornalista Lino Resende