quarta-feira, maio 31, 2006

Desprevenida


Falar de amor, desse amor que não existe, que só encontro em palavras alheias, a mim não destinadas, é o mesmo que queimar sempre a mesma pele, afundando, afundando. É quase atordoante, e me perco na dor.

Viver sem amor é caminhar em círculos, não há rumo nem destino.
Viver sem amor é andar cego porque não há luz onde amor não há.
É estar embebedado e não ver o foco da vida nem o sentido das coisas.

Por isso, como garimpeiro,
procuro, encontro e escondo versos de amor
e sonho e espero.

Ando desprevenida, como disse a música antiga,
esperando que o amor aconteça em minha vida.
Enquanto isso, alimento-me de memórias, de poemas de amor e sonhos.

Imagem: Jean-Jacque Renner

terça-feira, maio 30, 2006

Sonho?


Às vezes, penso que você não existe e
que o inventei em uma dessas noites solitárias.
Talvez seja apenas o eco dos meus desejos,
um sonho contínuo, por vezes, pesadelo.
Esses seus beijos aos milhares,
essa mania de brigar com minhas manias
e me pegar no colo sem rumo, sem jeito,
essas delicadezas que inventa, as mais doces do mundo,
não combinam com a cor dos dias.
Mais se parecem com nuvens leves
cobrindo a lua das minhas noites, dos meus sonhos.
Decidamente você é um sonho, mas como pode ser,
se vivo às noites acordada, pensando em seus braços, em sua boca temerária?

Imagem: Chagall

sábado, maio 27, 2006

Presentes


Eu tenho um novo amigo. Ele é um poeta camuflado sob milhares de palavras e acha graça dos meus poemas sem rimas.
E, sabendo do quanto gosto de flores, quase todos os dias me envia flores, do seu próprio jardim. Flores virtuais, lá de Portugal.
Se, às vezes, sou feliz é por causa dessas pequenas delicadezas.
Ontem, o meu amigo me deu dois presentes totalmente inusitados, porém muito necessários: o tempo e a loucura.
O tempo, esse desconhecido a passar por nós, indiferente aos danos e desencontros que provoca e aos amores que vai levando consigo para sempre.
O tempo, esse guardião da saudade.
O tempo, sempre menor que nossas vontades,
pequenino diante de nossas necessidades.
O meu amigo me deu o tempo, deu-me mais tempo.
Mas, de que adianta ter tempo sem a loucura necessária para gozar de todos os dias, as horas, os segundos?
A loucura nos dá as tramas para amar o impossível amor.
A loucura nos dá a coragem para fazer o inexistente vir a ser.
A loucura nos leva para outras vidas, diferentes da nossa.
A loucura nos faz criança para brincar de ser adulto, sem as dores de ser.
A loucura é indispensável para manter nossas janelas sempre abertas
e ver o mundo e amar o mundo.
O Tempo e a Loucura: meus presentes, são essenciais à felicidade.



O TEMPO

O tempo passa e nós dizemos
Perdi o tempo
Mas o tempo não se perde
O tempo passa

E o tempo
Não tem princípio
Não tem fim
Por isso o que
Não tem princípio
Não tem fim
Não é nada

O tempo
Não é nada
Não se vê
Não se consegue palpar
Mas é tempo
Tempo de Amar

A LOUCURA

A loucura de uma flor
Em que tudo lembra o amor
A loucura de estar sózinho
E não ter o teu carinho

A loucura da sedução
Que faz palpitar o coração
A loucura d'este querer
Só te olhar é um prazer

A loucura do teu olhar
em que penso em te beijar
E é por aí que vou

A loucura de ser louco
Em que o muito é sempre pouco
E sendo louco, louco sou.
Imagem: Paul Wittreich

quarta-feira, maio 24, 2006


Com o dia dos namorados chegando, fiquei nostálgica.
Lembrei-me do meu primeiro namorado, lindo como um anjo. Tocava violão e me deixava maravilhada.
Aprendi com ele a gostar demais de violão.
Éramos quase crianças, mas ele gostava de me dar beijinhos atrás da orelha e elogiar minha caligrafia.
Aprendi com ele o quanto o carinho amolece nossa alma e nos torna meio bichinhos recém-nascidos, de tanto mimo, quase imperceptíveis toques e olhares de amor.
Meus pais não me deixavam namorar e eu já estava na provecta idade de 15 anos. Por isso, ele fazia serenatas para mim, escondidas, diretamente da casa da vizinha, minha amiga.
Um dia, porém, ele, imitando uma música ridícula do Roberto Carlos (Rosita, será que alguém se lembra?) cantou na serenata: “Sarita, Sarita, não me deixe esquecido...”
Tudo bem, podem rir à vontade.
Meu pai descobriu tudo e o mundo caiu. Mas o namoro continuou melhor ainda, porque ainda mais escondido.
Ele era lindo e doce e usava aqueles cabelos loiros e longos, um hit da época e nosso amor era uma brincadeira de músicas e beijos e pequenas gentilezas.
Aprendi com ele a me importar apenas com pessoas gentis.
Chamava-se Fernando e tatuou meu nome no peito.

Imagem: Giclee Print

segunda-feira, maio 22, 2006

O meu amor


O meu amor será como fondue de chocolate que deixa uma permanente suavidade no céu da boca. Sua lembrança sempre me provocará um sobressalto de prazer, uma nostalgia boa, uma vontade de chegar logo o momento de encontrá-lo e provar novamente suas delícias doces e pesadas.
Aquela calidez de colo, onde me aninho sonolenta?
Será assim o meu amor.
Aquele calor na planta dos pés, que se transforma em corrida para os seus braços?
Será assim que o receberei.
Aqueles mimos e perfumes e beijos incontidos?
Será isso que lhe darei.
E ele será o rei dos meus dias e noites.
Isso é felicidade.

sábado, maio 20, 2006

Esperança

Daqui pra frente, tudo vai ser diferente, juro.
Irei sorrir todos os dias. Desmancharei as mágoas e esquecerei as dores. Prometo não me lembrar que há distâncias e desencontros. Minhas palavras serão cantos de amor para o meu amor. Prometo desvendar os sonhos e andar por trilhas de sol.
Esqueço, finalmente, as sombras e me deixo levar por claridades.
Alimento os sonhos e me alimento deles. Descobri que amar assim me basta. O que importa são esses vislumbres do que poderá ser, do que espero e de alguém que talvez esteja a me procurar. Algumas felicidades, orvalhos e estrelas em namoro por enormes madrugadas.
Enquanto espero, canto baixinho nas noites, acalanto para o meu amor e meus desejos acordados.
Descobri que amar assim me basta.

Imagem: Andre Boto

quinta-feira, maio 18, 2006

Sem remédio


Tenho que engordar dois quilos e parar de fumar. Tenho que comer e reduzir o ritmo dos meus sonhos. Preciso beber água e acabar de vez com essa sede de você. Ah! preciso tanto, de tantas coisas. Meu médico disse: ponha esses pés no chão. Mas só consigo voar por aí, borboleta tonta e boba, procurando a face do meu amor, que se perdeu entre palavras e distâncias. Preciso não chorar, ao ouvir Madredeus e esquecer você, esquecer, esquecer. Mas, não há remédio, não há pão, não há água que consigam esse milagre que nem sua ausência ou sua àspera presença são capazes de realizar.

terça-feira, maio 16, 2006

A falta que me faz


Em silêncio, guardo nas noturnas horas, a impressão dos seus desejos e busco em mim o que você se esqueceu de levar. Depois das horas, sua fragância em mim teima em doer, constante lembrança. As mesmas e remotas correntes de sonhos do meu amor, hoje sem dono, ainda tentam ir, ainda vão à sua procura. Mas não bastam, não bastam. Sem você, nada mais sou ou sei.

Imagem: Nicoletta

sábado, maio 13, 2006

Madrugada


Já é madrugada e, ao estilo de Lia, quis me escrever em perfeitas imagens, baús de acertos, lemes, flores. Mas, o meu vizinho, l'enfant, está ouvindo Joana, a Francesa e o que me deu foi uma vontade danada de ouvi-lo, amor, gemendo de preguiça e de torpor, coisa que de longe eu sei de cor.

Amanhã, hoje, sei lá quando,
bebo um vinho e fujo.
Vou me esconder com você no mar.

Imagem: Mônica Stuart

quarta-feira, maio 10, 2006

Ausências

Confesso que ando cansada de perdas. Algumas, causei, em minha ânsia por atenção; outras me foram impostas. De todas me cansei. Sou fraca, sou triste e não posso mais sustentar essas ausências. Pesam, pesam demasiado em mim e inutilizam meus braços, cegam-me, atrofiam meus desejos, num retorno contínuo a lembranças e sonhos mortos.
Falo daquelas ausências que nunca se completam, que nunca são de verdade porque deixam rastros, traços, rasgos e permanecem, mais presentes, postas quase sob minhas mãos, vazias, tão vazias. E seus cheiros e seus sabores não se vão, não se vão nunca.
Alguém disse que sou feita de escuridão. Mas, concluí que, antes de escuridão, sou feita de ausências, desses pedaços que levaram de mim. Sim, o barro que me constrói vem desses pedaços que me faltam, levados por todos aqueles a quem amei e que mais não estão. São ausências, assim como eu.
Quanto às luzes, busquei-as em outras pessoas. Inutilmente.

Imagem: Rembrandt

segunda-feira, maio 08, 2006

Suas palavras



Ai, essas palavras que me diz, ilusórias, algodão a se desfazer docemente em minha boca ou mordida em minhas entranhas.
Desassossegam-me.
Suas palavras são mundos onde me perco e me entrego, após luta inefável.
Suas palavras, armas que me ferem tal qual seus beijos e sinto vontade de me fazer em pedaços para o seu degustar.
Suas palavras permanecem em mim, estacas, falos, espinhos.
Em suas palavras, às vezes, há meiguice, inesperada e cruel, a me fazer chorar.
Suas palavras...

Imagem: Alexandra

quinta-feira, maio 04, 2006

Penélope


Entreguei-me inteira a esse amor.
Sangue, ossos e sonhos, reféns de seus agrados.
Entreguei-me inteira e você se foi,
prometendo voltar, um dia, talvez, quem sabe.
Nesses longos dias em que espero sua vinda, preparo tramas de desejos e palavras aéreas, sem sentido quase, de tanta saudade.
À sua espera, as horas são fios eternos do tear de Penélope e se mantêm quase imóveis à minha volta, cobrindo a vida inteira, longos, longos que são.
Sua imagem colore o tempo, o meu tempo parado, aguardando que você chegue e a vida desatine a viver em nós, como os filhos dela mesma que nunca desistem e nascem e renascem.
Espero, com as mãos e a alma cálidas, com os olhos claros da sua lembrança, com flores, pecados por cometer e vinho nas macias taças que você costumava usar.
Espero.

Imagem: Klaus Mittendorf

terça-feira, maio 02, 2006

Eu amo


Sim, eu amo. De um jeito calmo e esperançoso.
Amo as pessoas e os bichos.
A fragilidade dos seres desperta o meu amor e quero todos em meu colo
ninando-os com canções suaves.
O pranto e a dor dos solitários despertam o meu amor.
Queria poder abraçá-los e sair por aí, de mãos dadas, rindo com eles.
Amo quem sofre por amor. Gostaria de povoar seu coração
de novos sonhos e cantar outras músicas que pudessem
livrá-lo da dor.
Gostaria de ser abrigo, porém sou frágil e só tenho olhares doloridos para os outros frágeis seres.
Há um poeta morrendo de amor e nada posso fazer, a não ser misturar minhas lágrimas com as dele.
Gostaria de ser uma fortaleza e sou apenas caco de telha, que dá mínimo abrigo.
Mas, mesmo assim, amo as pessoas e os bichos.

Imagem: Joadoor

segunda-feira, maio 01, 2006

A mulher e os signos




Quando citei o Poetinha, falando da mulher de câncer (eu, entre elas), vários amigos e amigas me pediram para colocar todos os signos. Então, aqui estão.
Todas as mulheres, de todos os signos, maravilhosas, sempre.


Áries (de 21 de março a 20 de abril)
Branca, preta ou amarela
A ariana zela.
Tem caráter dominador
Mas pode ser convencida
E ai, então, fica uma flor:
Cordata...e nada convencida.
Porque o seu dominador
É o amor.
Eu cá por mim não tenho nenhum
Preconceito racial:
Mas sou ariano!


Touro (de 21 de abril a 20 de maio)
O que é que brilha sem
Ser ouro? – A mulher de Touro!
É a companheira perfeita
Quando levanta ou quando deita.
Mas é mulher exclusivista
Se não tem tudo, faz a pista.
Depois, que dona-de-casa...
E a noite ainda manda brasa.
Sua virtude: a paciência
Seu dia bom: a sexta-feira
Sua cor propícia: o verde
As flores dos seus pendores:
Rosa, flor de macieira.


Gêmeos (de 21 de maio a 20 de junho)
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que quer
Mas tirante isso
É boa mulher.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que diz
Mas tirante isso
Faz o homem feliz.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que faz
Mas por isso mesmo
É boa demais...

Câncer (de 21 de junho a 21 de julho)
Você nunca avance
Em mulher de Câncer.
Seu planeta é a Lua
E a Lua, é sabido
Só vive na sua.
É muito apegada
E quando pegada
Pega da pesada.
É mulher que ama
Com muito saber
No tocante a cama
Não sei lhe dizer...


Leão (de 22 de julho a 22 de agosto)
A mulher de Leão
Brilha na escuridão.
A mulher de Leão, mesmo sem fome
Pega, mate e come.
A mulher de Leão não tem perdão.
As mulheres de Leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de Leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
igneas, áureas e sadônicas
E muito, muito liberais.


Virgem (de 23 de agosto a 22 de setembro)
Se Florence Nightingale era Virgem
Não sei... mas o mal é de origem.
A mulher de Virgem aceita a amante
Isto é: desde que não a suplante.
Sexo de consumo, pães-de-minuto
Nada disso lhe há de faltar
O condomínio é absoluto
A virgem é mulher do lar.
Opala, safira, turquesa
São suas pedras astrais
Na cuca, muita esperteza
Na existência, muita paz

Libra (de 23 de setembro a 22 de outubro)
A mulher de Libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.
Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.
Quando o marido a trai
A mulher de Libra
balança mas não cai.
Se você a paparica
Ela fica.
Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.


Escorpião (de 23 de outubro a 21 de novembro)
Mulher de Escorpião
Comigo não!
É a Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana.
Agora, de cama diz
que é boa paca.


Sagitário (de 22 de novembro a 21 de dezembro)
As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas.
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide...
– Também, quem gosta de censura!


Capricórnio (de 22 de dezembro a 20 de janeiro)
A capricorniana é capricornial
Como a cabra de João Cabral.
Eu amo a mulher de Capricórnio
Porque ela nunca lhe põe os próprios.
A capricorniana é tão ciumenta
Que até os ciúmes ela inventa.
Mulher fiel está aí: é cabra
Só que com muito abracadabra.
Suas flores: a papoula e o cânhamo
De onde vêm o ópio e a maconha
Ela é uma curtição medonha
Por isso nos capricorniamos.


Aquário (de 21 de janeiro a 19 de fevereiro)
Se o que se quer é a boa esposa
A aquariana pousa.
Se o que se quer é uma outra coisa
A aquariana ousa.
Se o que se quer é muito amor
A aquariana
É mulher macho sim senhor.
Porém não são possessivas
Nem procuram dominar
Ou são meigas e passivas
Ou botam para quebrar.


Peixes (de 20 de fevereiro a 20 de março)
Mulher de Peixe...peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista
Vinícius de Moraes