sábado, junho 28, 2008

Lamento de quem ama sem conhecer o amor


O que vale amar, se faz frio
e a noite é um vidro fechado,
apenas?

O que vale amar, se tudo se fecha,
se chove interminavelmente
e, em seus olhos,
nenhum brilho de arco-íris nasce,
como sempre acontece com quem ama?

Abrir-me como o vaso pressentindo a flor
a conduzir a vida com seu perfume,
deu vida aos espinhos que meu corpo cingem,
apenas.

Despeço-me, então, da ternura e da paixão,
deixo o beijo para quem conhece o mistério
de abrir o sol com a língua.
Deixo a doce lida de amar
a quem pode colorir os olhos, depois da chuva.

Nos meus, a lágrima cortante dos sozinhos,
apenas.

Imagem: Nuno Peixoto Branco

segunda-feira, junho 16, 2008

Baile


“Te amo sem saber como, nem quando, nem onde”
Pablo Neruda



Íntima semente baila em meu reino
ao sabor de tuas doçuras.
Fogueiras acesas guardam meu coração
e o perfume que nele deixaste.
Visto-me de tanto sonho,
em rosa encarnada da cor de tua boca,
dos teus beijos a me enfeitar depois de tanta espera.

Bela para nossa dança,
tranço trêmula nos braços teus
e no suave sabor de teus murmúrios,
mar a me levar ao único dos mundos
meu e teu.

É manhã sempre para este amor
pois que tudo começa e renasço bem amada.
E por teu amor, refeita,
eu te amo mais.

quinta-feira, junho 05, 2008

À noite


Preferia a noite quando, insone
inventava palavras de amor
(que não me dizias)
palavras em carne viva que arrancava de mim
para serem tuas, no diálogo sério e louco
dos que amam sozinhos, dobrados sobre si
amor em dobro, pesando sobre a alma só.

Confesso...

Inevitável é te amar
já não luto mais.
Desamparada do teu amor,
ainda agora um conto que leio
de outros personagens,
entrego-te as palavras que sempre foram tuas,
sem eco em ti, no entanto.

Preferia as noites
quando a melancolia em meus olhos dormia
e as estrelas ouviam uma voz,
ora alta, ora em murmúrios,
o diálogo louco de uma alma só,
como se fora duas,
amando na noite, imersa na madrugada
enquanto as flores amanheciam...

Inevitável...

Elegia do amor que, a um novo dia,
repousa calada em minhas pálpebras feridas de luz,
feridas de toda certeza deste inútil querer.

Até que chegue novamente a noite
e o oceano rubro das palavras enovele
minha voz solitária em tua imaginária voz.
no denso silêncio, o perfume escuro das rosas
enfeita o intento meu
de desadormecer o teu amor.

Imagem: Diego Prado (flick)