sexta-feira, agosto 18, 2006

INFÂNCIA


Meu amigo, quero lhe falar de cismas e, caso seu tempo permita, eu lhe conto uma história.
Pode ser de amor, quiçá de dor.
Eu era criança e fui feliz.
O quintal, as mangueiras.
Tica, Dona, Neve, galinhas irônicas, imortais mesmo depois de farturas de almoços e festas.
A lua mais bonita do alpendre de ladrilhos, disputando a atenção com “Espumas Flutuantes”.
Meu berço, Passárgada para sempre perdida!
Berço imenso, ainda hoje.
Quintal, manga, rosa branca, goiaba, jabuticaba, jaca e cisterna.
Lagarta, os cachorros Javali e Chuvisco e o mistério de seus nomes, jamais revelado.
Medo do fim do mundo.
E se o mundo acabar e levar os pintinhos?
Janelas imensas sempre fechadas, de quartos escuros, salas mortas e móveis negros, silenciosos.
Cristaleira de tesouros e o olhar faminto daqueles reflexos.
Porcelanas intocáveis à espera de sérias e raras estrelas que nem brilhavam tanto ao chegar.
Suas tristezas, suas roupas e sorrisos soturnos apagavam as cores que as luzes desenhavam em cristais adormecidos de tédio.
Só a música acordava sonhos de princesas em salões felizes e desfaziam a realidade.
Desculpe, amigo. A história se alonga e se espalha em minhas lembranças.
A vida daqueles dias permanece hoje na saudade boba deste meu coração que insiste em lembrar.

Imagem: Arthur J. Elsley

10 comentários:

Anônimo disse...

O melhor momento da vida nunca deve ser esquecido.
E eu me lembro ainda hoje de subir na cerejeira e comer seus frutos ainda verdes...eu me lembro de pular na pscina e e flutuar em suas águas...eu me lembro do primeiro beijo na menina da rua B N10...ainda lembro dos seus cabelos cacheados, seu sorriso meigo,seu olhar puro...ainda lembro do seu abraço apertado,seu cheiro...ainda tenho sua imagem no coração,ainda tenho...ainda lembro...

Anônimo disse...

Tempos bons aqueles da inocência, da infância, dos quintais e das frutas, do nada saber, do nada precisar... Feliz é aquele que tem lembranças para si e para contar. Beijos

DE-PROPOSITO disse...

Infância? Cada um teve a sua, os que a tiveram. Mas dos outros não reza a história.
Beijos
Manuel

Anônimo disse...

Pra mim, estas lembranças são sagradas! E são tantas, né? Todas trazem paz e uma certa nostalgia, uma vontade de ver o mundo como qdo o imaginávamos perfeito!
Bom ler suas memórias, viu? Bom demais!
Beijocas

Anônimo disse...

Saramar, cada vez que leio seus escritos, tenho alegria muita, uma identificação substantiva. Continue lembrando e lembrando que isso é tesouro revelado no brilho de seu texto. Beijos.

Anônimo disse...

Oi Saramar...Vim matar a saudade...
Ler você é como afofar a terra, regar a planta e sentir o cheirinho de vida que brota dela.
Obrigada pela sua generosidade, esbanjando imagens de memória.
Um beijão pro'cê.

Anônimo disse...

Creio que nunca a saudade é boba,SARAMAR. Feliz daquele que tem um coração repleto delas.
Beijos e otimo domingo!!

Jonas Prochownik disse...

Minha infância foi em Minas, mas já me considero totalmente carioca.

Marco disse...

Saramar, querida... Que coisa linda esse seu momento antigas ternuras...
Estou com o grande DO: saudade nunca é boba. Precisamos dela, é nosso referencial. Pra sabermos que estamos vivos, que vivemos e que ainda temos muito a viver.
Beijo grande.

Anônimo disse...

Deliciosas saudades de outros tempos, de outras visões, de outros sentimentos. Dos quintais com seus bichos e frutas à escolha. Momentos que nos trazem à memória a nossa própria infância, com seus cheiros, suas brincadeiras, seus sonhos.

Beijos. Carinho.