quarta-feira, março 15, 2006

Devaneio


Como diz o Beto Guedes, foi como ver o mar. A primeira vez que o vi, alguma coisa mudou em mim. Algo em meu corpo saiu do eixo, e minha alma argentina sabia que eu estava perdida. Ao vê-lo, perdi o rumo e as palavras. Só enxerguei seus olhos nos meus, daquele jeito de menino perdido, pedindo colo. Lado a lado e tão distantes, havia um raio, um frenesi. Minhas mãos indóceis queriam tocá-lo, já imaginei logo uma dança, um bailado dos nossos corpos. Entretanto, para mim, ele é proibido. Sempre foi e talvez seja para sempre. Ainda assim, não suportei imaginar outros dias sem ele. Ainda que longe, estava sempre comigo. Ainda que de outra, é meu, no coração e no meu corpo. É meu, em minha imaginação, em meus sonhos. Aliás, sonhar é o que faço, acordada sempre, ou dormindo. Fomos nos aproximando tão instintivamente, fomos nos tornando tão iguais, ou reconhecendo nossas semelhanças, sei lá. Foi tão naturalmente que nossos versos se cruzaram. Uma dança, um fogo, uma lenta e inexorável junção que, quando vimos, as palavras já tomaram novos rumos. Não resisti um segundo sequer à sua atração. Não quis e não pude resistir. Ao contrário, lancei-me nele, entreguei a ele, primeiro meus sentimentos, depois minhas vontades. E, ele relutante, temia o meu ardor, assustou-se com o tamanho do meu querer, com a ânsia dos meus sentidos. Jurei esquecê-lo, prometi recolher minhas teias. Combinamos tudo: somos amigos, irmãos, companheiros na seara do conhecimento. Esquecemos que o desejo é indomável, esquecemos da sede, da fome escondida em mim. E, naquele dia tão comum, em uma conversa amigável e tranqüila, de repente, irrompeu em mim tão poderosamente, não me contive. Beijei sua boca, como há tanto queria. Beijei alucinadamente sua boca que queria em mim inteira. Ele só me dizia louca, louca e me beijava, desesperado por também não conseguir resistir. As mãos se tornaram independentes, traçando desenhos em nossos corpos ansiosos. Meu corpo queimava a cada toque e, ao mesmo tempo, arrepiava-se. Sua língua, um veneno em meu corpo, o mais doce dos venenos a me enlouquecer. Minha boca, sua perdição. Minha boca nele se perdeu sussurrando as palavras que o desejo cria pra os amantes aumentarem o que já é imenso. Beijos alternavam-se em nós, os corpos colados, como se fosse para sempre e o prazer dos gemidos mais loucos embalando nossa dança. Noite, longa noite, em que nossos gritos de êxtase acordaram o mundo, em que nosso desejo, contido e escondido se libertou das convenções e nos deixou rendidos, ambos. Finalmente, exaustos, nos abraçamos como dois perdidos e adormecemos em nossos corpos molhados. E agora? E depois? E o que será? Como será? Não sei, não sei. Só sei do meu sentimento, só sei do meu desejo, só quero saber do desejo dele, só quero ouvir novamente aqueles gemidos em minha boca, em meus ouvidos, em meu corpo. Louca, louca, como ele me chama, só quero novamente aquela noite.

5 comentários:

Moita disse...

Sarita

Esgotei meu estoque de elogios aos seus poemas. Já comeceu a chorar de tão emocionado, ao lê-los.

cheiro

Rose disse...

Sara,
Seus poemas, seus textos, tornam o amor ainda mais lindo.

bjs

Karla Rensch disse...

Encantada....
Lindo blog e mais linda a arte de que tao bem se manifesta por entre seus dedos. Prabéns.

+ Kazzx + disse...

Cara SAramar:

Gostei, exala sensibilidade...não consigo ter esta sensibilidade ao escrever....

Anônimo disse...

Delirante delirio de amor, amor fugaz.
Beijos Poéticos.
;***