sábado, setembro 30, 2006

Felicidade

Pode ser que a vida amanheça sombria, que o telefone fique mudo e as flores acordem murchas, tristes. Pode haver chuva e cinzas irrevogáveis.

Os cachorros podem decidir continuar dormindo enquanto procuro no espelho minha relutante beleza.

O café doce demais, o pão que não deu certo, o frio contrariando meu vestido. Pode acontecer.

A felicidade entretanto, sorri para si e me dá asas. Anjo? Não.
Saio de vermelho, desafiando a manhã.

Imagem: Dell'Orto

sexta-feira, setembro 29, 2006

Reflexos

Ando meio rio, meio riacho, em calmaria,
deslizando pelos dias e noites
em cuidadoso encanto.
Depois de algum tempo de tristezas comuns,
ouço minha voz em música suave.
Depois de lagoa de sal e, no entanto, negra,
ando por aí, riozinho despretensioso,
que passa admirando flores e reflexos em sua pele líquida.
Ando por aí, procurando o mar.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Dedicatória

Encontrei esta maravilhosa canção neste blog e resolvi copiar aqui, só para você.
Clique no título e se entregue a essas ondas, aos sons doces da canção, sons do mar e do amor, que dizem o que nem sempre podemos dizer.
A música, esse presente dos deuses, serve também para revelar nossos desejos e levar, até bem longe, palavras prisioneiras, apesar das janelas abertas.



CANÇÃO DO MAR


Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

Frederico de Brito / Ferrer Trindade.


Imagem: Frederick J. LeBlanc

terça-feira, setembro 26, 2006

Visita


Minha amiga mais constante está chegando.
Pressinto-a nas noites insones e nos versos desalentados que se repetem como goteiras de chuva forte, como lágrimas grandes, grossas.
Antevejo-a em páginas trágicas, as únicas que, em sua presença, leio.
Os olhos inúteis para a primavera e a essa dor ao sorrir são prenúncios de uma visita longa, repleta de silêncios.
Quando ela chega, torno-me fragmentos que choram pelos cantos de mim.
Quando ela se acomoda em meu coração, agulha em disco arranhado, aos saltos, apaga a música e interrompe minha dança.
Minha amiga mais provável havia se demorado, quase a esqueço.
Quase esqueço que retorna, retorna sempre.
É manto líquido das lágrimas que insiste em arrancar dos meus olhos,
por algum tempo fechados para a beleza das auroras.

Imagem: Langrenee

segunda-feira, setembro 25, 2006

ANIVERSÁRIO!!!!!



Havia esquecido.
Nesta semana, o blog completou um ano.
Creio que, por intermédio dele eu fui presenteada o ano inteiro com tanto amor e exageros carinhosos, com tantos amigos, tanta beleza, tanto carinho que, mesmo que deixe hoje de escrever aqui, nunca mais estarei vazia.
Ao contrário, estarei para sempre cheia de calor, do calor dessa amizade quem apesar de virtual, é intensa e perfeita.
Obrigada, meus queridos. Muito obrigada.
Sem vocês, eu nada seria.

As fores, como sempre, são presentes meus para mim.

Imagem: Rachel Ruych

domingo, setembro 24, 2006

Necessário olhar

De mim, já sabe as dores,
conhece as lágrimas e lamentos.
De mim, já conhece os vãos e os desvios,
já entende os receios.
Precisa agora, olhar dentro dos meus espelhos,
E neles ver os lampiões e acordes de amor
escondidos dos outros olhos aos quais não se destinavam.
À espera da sua luz, guardei-os cuidadosamente.
Guardei-os dos ventos violentos que agitaram
as cortinas e fizeram tremer as portas trancadas.
À sua espera, escolhi um ventinho calmo e leve para
que continuassem limpos e claros, meus cantos e luzes.
Longa, longa espera.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Amar é trivial?

Falar de amor é trivial?
Foi o que me disseram. Pode ser. Porém, amar é difícil.
Amar não é trivial.
Amar é, antes, saltar em abismos ou provar vinhos desconhecidos.
Não, amar não é fácil.
É, antes, curvar-se à inevitável tempestade, é tornar-se náufrago e querer imergir, entregue, finalmente vencidos todos os limites, abandonadas todas as resistências.
Amar é ansiar pela desordem na alma, no corpo, nos olhos que só querem olhar a miragem do amor.
É atropelar todos os sentidos, confundindo-os em quase delírio.
Amar é delírio.
Amar inebria, entontece, como diz a música.
Por isso, quando amo, as cores do mundo são outras.
Os espaços são imensos se meu amor não está e, mesmo assim, não me cabem, cinzentos.
Mas, se ele chega, todas as luzes se acendem e festas se iniciam.
A consciência do meu amor torna tudo agudo, pungente como bebida amarga e ainda assim, desejada, longamente esperada.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ainda a primavera


Meu amigo De Propósito deixou-me o poema do Alberto de Aragão e um verso nele se parece muito comigo:


"Quis de novo florir em sonhos e quimeras."

Ando sempre assim florindo,
mesmo que a primavera só venha amanhã.
Ando como flor à espera do sol,
ou borboleta,
indo-me em direção ao vento, distante ainda,
mas que me toca de leve,
embala-me em quimeras, como disse o poeta.
A primavera, mesmo que ainda não esteja,
é perfume e felicidade.
Como flor, anseio por sua chegada.

P.S. Amigos, estou em viagem e com dificuldades pra postar. Por favor, tenham um pouquinho de paciência. Volto já. Beijos e saudades.

domingo, setembro 17, 2006

Primavera

A primavera está ali, na esquina.
Tempo de florir, de sorrir, tempo de colher.
Em um certo poema, contei para quase ninguém
de umas sementes que havia plantado, esperançosa.
Quase todas continuaram sementes. Continuam além de qualquer visão. Não germinaram.
Também andei assim, por muito tempo, em escuridão, em profundezas invisíveis, por trás de paredes escondida.
Agora, crisálida, busco asas para me lançar, quem sabe, a venturosos dias de perfume, ébria talvez de infinitos sentidos, muito além de todos que existem. Talvez, íntima, de amor colorida.
A primavera. É ela que me busca e abre meus recônditos olhos para mundos felizes, quentes como os dias cheios de flores e aromas.
É a primavera que chega a meu coração antes, arca fechada e agora, cálice.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Sonhos

Que seria da vida sem os sonhos,
se estes são o sal dos nossos dias?
Não me culpe, se passo os dias a sonhar.
Se sonho sempre com o amor não sorria, indulgente.
O amor é a própria vida e, como a vida, surpreende, muda e atravessa mares e desertos em busca incessante.
Se também procuro, constante, a beleza na alma das pessoas, não zombe da minha busca, nem desista da sua.
Todas as almas têm sua gênese na beleza da perfeição.
Se a amizade é o que me fortalece, não diga que sou ingênua.
Sem amizade, não há alegria possível, nem certezas.
Sonhos, o amor, os amigos são os ingredientes que tornam a terrível luta mais humana e fortalecem os frágeis homens para seguir em frente.
Tenho amigos. Não tenho amor.
Sonho que meus sonhos se tornam realidade.
Sonho.

Imagem: Juarez Machado

segunda-feira, setembro 11, 2006

Idas e Vindas

Um dia, ele sussurrou você é minha flor de perdição e a vida foi tomada de sobressaltos e encantos. Não restaram mistérios em nossos olhos, só uma ternura pungente e o desejo de nunca se separar. Perdida nesse amor, só via sol que ele era, sua luz, seu calor, chegando devagar todos os dias, como quem não quer nada. Ele me tornou sua.
Temi esse amor, esse amor abrupto e urgente que me afastou da vida para existir apenas em seus braços. Vivi a angústia antecipada, o medo invulgar do fim, porque um sentimento que despedaça e reconstrói infinitas vezes não pode, não deve continuar.
Um dia, ele disse não somos mais nós. Vou-me de você, que devorou meus pedaços.
Desde então, sou metade.

sábado, setembro 09, 2006

Carta


Meu amor,
eu disse que não iria pedir para você voltar.
Mas me diga o que faço desse amor teimoso?
Meus pensamentos andam por aí, andam, mas sempre reencontram sua voz, seu cheiro ou alguma palavra de amor perdida, entre tantas de despedida.
O que faço dessa dor? Não sei, mais nada sei porque erro em inclemente passado tendo visões dos momentos tão nossos e agora sem dono.
Não choro mais e me abraço à noite. Rolo no leito e me envolvo em lembranças, coisas loucas, pequenas coisas de nós dois, a flor, o espinho que me arranhou a mão e beijos para estancar o sangue. Um livro e dois leitores, um beijo a cada página virada. Livro abandonado e dois leitores a decifrar os doces códigos da pele e da boca.
Amanheço e procuro sua música, mas há um silêncio perene em meu coração. Há um silêncio no mundo, como se nem mundo fosse e só essa ausência, essa sua ausência que povoa os lugares e torna enorme o tempo de viver. Sem você, sem você, sem você que está em mim, que não me deixa, que nunca se vai, preso em minha alma presa desse amor inútil.

Imgem: Leonardo da Vinci

quinta-feira, setembro 07, 2006

Quando o amor vier

Quando o amor vier, há de me encontrar já feliz pelo prenúncio de sua vinda.
Decerto, estarei plena de tantas vidas a sós que vivi à sua espera, com a certeza mágica das crianças.

Se acaso chegar ferido, darei meu colo e dos meus braços farei ninho. Mas, se vier afoito, darei meu sangue e o coração trêmulo dos apaixonados. Se quiser, gueixa; se insistir, deusa.

Tantas vezes ensaiei sua chegada!

Espero-o com a primavera em meus olhos e o calor do verão.
Espero-o na dança solitária do meu corpo que sempre começa ao imaginar o amor à minha porta.
Espero com carinhos há muito guardados, cálidos, indóceis.
Espero com festa e centelhas nos olhos.
Espero com todo o amor que guardo para quando ele vier.

Imagem: Pierre-Auguste Cot

PÁTRIA

Meus queridos amigos, hoje é o dia da Pátria, o dia em que deveríamos comemorar nossa liberdade e independência. Eu não poderia deixar de dizer o que sinto, como sempre faço aqui.

Não há comemorações. O povo virou as costas para a idéia de Pátria e para o respeito aos seus símbolos e aos dias nacionais. Mas, o povo não é culpado. Isso é fruto da enorme descrença de todos diante da vergonha porque passamos atualmente. A vergonha de ver a pátria tomada pela corrupção e pelos corruptos.

Mas eu tenho esperança. Eu acredito que iremos mudar esse país.
Eu sei que, em breve, poderemos “ver contente a mãe gentil”.
Muito em breve, nossas vozes e mentes unidas cantarão que “já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”.

Será logo, no dia seguinte àquele em que os vendilhões serão expulsos do templo sagrado que é a pátria brasileira.

Para isso, precisamos exercitar nossa consciência e abandonar o “temor servil”, escolhendo homens e mulheres preocupados com o país, como nossos representantes. Nós sabemos fazer isso e iremos fazer. Somos cidadãos honestos, por que, então, nossos representantes poderão ser o inverso?

Não podemos novamente aceitar o “astuto ardil da perfídia” de “ímpias falanges”.
Vamos voltar a ter orgulho da nossa Pátria.

P.S. Os itálicos são do Hino da Independência.

terça-feira, setembro 05, 2006

Cúmplice

Cúmplice?
Não fui cúmplice,
Apenas aceitei seus carinhos
e me calei à música do seu riso.
Nada aceitei senão a saudade
que deixava em todos os meus caminhos.
Não diga que minha boca chamou a sua
quando eu apenas vivia de sonhá-la.
Não, não fui cúmplice.
Esperei apenas.
Foi você a vir, foi você.

Imagem: Alfred Gokel

domingo, setembro 03, 2006

Etiquetada

Já havia sido etiquetada no Escrevinhações, em 31/08, mas como disse o meu querido Marco, que novamente me etiquetou, a tentação de contemplar o próprio umbigo é inelutável.

Por isso, coloco aqui mais quatro coisas de que gosto e que me definem, uma delas repetida e todas tão comuns, coisas de gente simples, como eu sou.

Sem dúvida, o que me dá mais prazer neste mundo são os livros, esses companheiros confiáveis e constantes. Costumo ter uns três ou quatro na cabeceira, e leio ao acaso, releio, busco pedaços, frases, alguma imagem que me emocionou. Leio no banheiro, na fila do banco, na cama. Leio na cozinha cortando legumes. Leio, leio, leio.
Minha relação com eles é também sensorial: gosto de tocá-los, de admirar suas capas, tentando decifrá-las, gosto das orelhas, do cheiro, do volume, do peso deles em minhas mãos. É amor, é paixão o que me liga aos livros.

Gosto do amor, esse mundo, ora primavera, ora inverno. Gosto de amar e das pessoas apaixonadas. A falta do ser amado e a espera. O prazer da vinda e esse átimo em que a respiração se desnorteia de tanta felicidade, à sua chegada. A cumplicidade, a alegria quase infantil de compartilhar o mesmo espaço, o mesmo momento de amor. As dores e saudade quando o amor deixa de ser brinquedo e se torna solidão. Gosto de tudo isso e sinto-me nua e perdida quando não estou amando.

Gosto de música e de cantar. A música é um milagre, eu acredito. Nossa ligação com os deuses, um resquício deles que ficou em nossa alma. O último bem, o único elo que nos permitiram para que não ninguém se esqueça de sua origem divina. Sempre me deslumbro com os sons, a melodia me atrai mais que as letras. Adoro violoncelo e aquele som quase dor.

Gosto de gente. Conversar, trocar gentilezas e carinhos, presentes. Gosto das pessoas para amá-las e confio em todas, como criança. Raramente me engano ou me entristeço com os meus amigos.

As pessoas são baús que nunca se enchem ou se esvaziam, porque vamos tirando alegrias, festas, e coloridas lembranças, trocando-as por nossa própria felicidade. O que colocamos neste baú é o que iremos encontrar mais tarde quando formos, nele, buscar algo. Amizade também é compartilhar. Inclusive as dores.

Há mais, claro. Meus cachorros, meus sapatos, meus cd's...... Há muito mais.

Imagem: Tony Vita

sexta-feira, setembro 01, 2006

Pássaro preso

Tenho medo de escuro.
Não gosto de portas fechadas.
Prefiro a claridade dos dias e o calor do sol.

Porém, muitas vezes, tranco minhas portas
e desapareço em minha própria escuridão.

Nestes momentos, sou ninguém.
Nada me redime,
trapezista sem circo, desisto de voar.

Tudo inerte, sem pêndulos, sem volta, até que uma palavra, algum perfume de flores desfazem as paredes que criei.


Onde estão, onde estão as palavras?
O que foi feito das flores?