sexta-feira, outubro 14, 2005
Os que esperam
Este blog está até parecendo de literatura. Todo dia invento de postar um texto de alguém. Ah! mas, não resisto. Gosto tanto. Não quero perdê-los.
Novidades hoje e daquelas que me deixam assim, meio vaidosa. Fui convidada para participar de um grupo literário na rede. Humm... estou me sentindo a própria Adélia Prado. Há pessoas de todo o país no grupo, inclusive de Goiânia. Já mandei dois textos (poemas meus). Ainda não sei como será a recepção a eles, porque a mim, foi deslumbrante. Uma paparicação total.
Todo mundo na net é bonito? Só eu sou feia? Fico vendo as fotos do pessoal das minhas comunidades no orkut, só tem lindinhos e lindinhas. Os que visitam meu blog e se mostram são todos bonitos, alguns lindos. E eu, ai, ai. Credo!
Agora o texto
OS QUE ESPERAM
Há os que esperam. São os que se deixam ficar imóveis à margem. Ali ficam. Os olhos são opacos, mas é possível, com muito cuidado, descobrir nos seus movimentos lentos e mínimos, cenas rápidas de amor e saudade.
Os que esperam observam, num quedar sem músculos, a nuvem que forma formas de sonhos e objetos de seres e nadas. As nuvens são como grandes deuses de fumaça. Têm seus gostares.
Os que esperam abraçam-se como se fossem duplos em apenas um corpo. Estão sempre abraçados a si mesmos. Podem fazer isto porque esperam. Sentem-se frágeis e fortes ao mesmo tempo, uma coisa depois outra. São os duplos.
Os que esperam ouvem o som do coração e se encantam, pois apesar de tudo, ele se move. Ele tem um movimento que não é bem uma música, é mais uma dança de balanço.
Os que esperam sentem o vento que passa leve e levanta o fiapo de algodão. Ele desenha piruetas errantes antes de ficar preso ao arbusto. Muito curta a vida de um fiapo de algodão. Quanto tempo fica preso um fiapo de algodão no arbusto seco? Talvez muito, como o tempo dos homens. Não, isto é mais do que é possível pensar. A vida do algodão no arbusto é só um tempo.
Os que esperam olham os filhos, além deles. Os seus filhos já chegam com história. Essa história forma um outro filho sem face, grudado aos seus pés e que nunca os abandona. Dão-lhes o nome de sombra.
Os que esperam não têm pressa. São parte da paisagem, que não se conforma por não ter um sentido sem eles, os que esperam. Tudo é muito fugaz. A própria paisagem é uma sucessão de leves arranjos que nunca mais se repetem.
Os que esperam levantam os olhos para o céu mas não perguntam quando.
Os que esperam olham o chão e aceitam o ponto certo onde ficar.
Os que esperam rebuscam saudades, aconchegados ao silêncio. Têm saudades de coisas que sequer conhecem mas que possuem o dom de provocar um arrepio fundo que encrespa a pele.
Os que esperam nunca estão sós. Há sempre, grudando em seu corpo, um silêncio de quem aceita a espera, como aceita o amor que resiste a todo o tempo e vai muito além das suas melhores lembranças.
Quem espera nunca está só, faz parte da solidão de quem passa.
WALDEN CARVALHO
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